O desafio, no futuro, para os pesquisadores será a busca das explicações para o Brasil ter alcançado um nível de deterioração das instituições democráticas que seriam inimagináveis quando do processo eleitoral de 2018. O País vinha de um traumático processo de impeachment e de um momento marcado por sucessivas acusações de corrupção, sem esquecer o julgamento da ação penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal. Já em 2013, de forma desorganizada, estalidos sociais ocorreram inicialmente em Porro Alegre e depois se espalharam pelo País, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Um sentimento de enfado associado a um desejo de mudança perpassava a Nação sem que fosse materializado por nenhuma força democrática. As manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff se espalharam pelo Brasil em 2015 e 2016. Mas a simples presença nas ruas, como seria de se esperar, não produziu nenhum saldo organizativo e a ascensão de Michel Temer à Presidência da República não produziu um sentimento de esperança, como ocorreu em 1992 com Itamar Franco – em uma situação econômica muito mais complexa, registre-se.

As forças democráticas, desorganizadas, sem lideranças de efetiva expressão nacional, sem um programa político – e tendo o Partido dos Trabalhadores na oposição e apontando que o processo de impeachment teria sido um golpe parlamentar –, deixou um enorme vazio político e nenhuma referência sólida no campo democrático e que apontasse para uma renovação política frente à dualidade eleitoral que vinha desde 1994, entre o PT e o PSDB. E mais, que a simples dualidade partidária, fosse suplantada por uma nova resposta programática em relação aos problemas nacionais que foram surgindo na segunda década do século XXI, principalmente após a trágica crise de 2015 e 2016.

A ação judicial em relação às graves acusações de corrupção – nem sempre seguindo o devido processo legal – desviou o foco das questões centrais que o Brasil deveria enfrentar

Infelizmente, nada disso ocorreu. Muito pelo contrário, a ação judicial em relação às graves acusações de corrupção – nem sempre seguindo o devido processo legal – desviou o foco das questões centrais que o Brasil deveria enfrentar. O País virou uma enorme delegacia de polícia, com um entre e sai constante de acusados, e as propostas de ação político-econômica mais que necessárias devido à complexa situação que passávamos, foram deixadas de lado.

Era mais importante saudarmos um novo preso do que alguma medida efetiva governamental. Chegamos aonde chegamos não por acaso. O desafio vai ser encontrar o caminho da superação desta terrível conjuntura. E sempre tendo como norte a Constituição de 1988.