O excelente Ruy Castro, um dos melhores e mais respeitados escritores do País, publicou uma coluna na Folha de S.Paulo deste domingo (10), em que sugere – ironicamente ou não – o suicídio a Donald Trump. Em seguida, complementa:

“Se Trump optar pelo suicídio, Bolsonaro deveria imitá-lo. Mas para que esperar pela derrota na eleição? Por que não fazer isso hoje, já, agora, neste momento? Para o bem do Brasil, nenhum minuto sem Bolsonaro será cedo demais.”

Em julho do ano passado, após o presidente ter testado positivo para Covid-19, outro colunista da Folha, Hélio Schwartsman, motivado pelo descaso com que Bolsonaro trata os doentes e familiares das vítimas do novo coronavírus, assim intitulou uma coluna:

“Por que torço para que Bolsonaro morra”. E concluiu no artigo: “torço para que o quadro se agrave e ele morra… sua morte pouparia muitas vidas. Bolsonaro prestaria na morte o serviço que foi incapaz de ofertar em vida”.

Quem sou para julgar ética ou tecnicamente, sob as formalidades do jornalismo, a conduta de ambos. Sou um neófito no assunto e escrevo como se fosse um amigo em mesa de boteco, batendo um papo, sem compromisso com manuais ou regras de redação.

A forma com que me expresso também em nada me autoriza a crítica, já que – sem a qualidade e o domínio da língua destes dois monstros sagrados – utilizo palavras e frases bastante agressivas para expressar minha indignação perante os desmandos deste senhor.

O que me chama a atenção e me motiva este texto é tão somente a conduta do Ministro da Justiça, André Mendonça, que utiliza-se do cargo (público) e do aparato do Estado (financiado por nós), para investir juridicamente contra os autores dos textos.

Causa-me ainda mais espécie suas palavras sobre o artigo de Castro: “Alguns jornalistas chegaram ao fundo do poço. Instigaram Presidentes da República a suicidar-se. Apenas pessoas insensíveis com a dor das famílias de pessoas que tiraram a própria vida podem fazer isso“.

Mendonça trabalha com grande afinco para um governo liderado por um presidente capaz de dizer: “e daí? Não sou coveiro. Se morrer, morreu. Bando de maricas. Tem de enfrentar o vírus como homem” etc., em plena pandemia que já ceifou 200 mil vidas brasileiras.

Mendonça não se manifestou quando o amigão do Queiroz assim ironizou: “Mergulhei de máscara para não pegar Covid nos peixinhos” (seja lá o que isso significa). Afinal, ministro, e a dor das famílias das pessoas que morreram? Bolsonaro também é um insensível?

Ao incentivar a população a não usar máscaras, a não respeitar o distanciamento social, a confiar em remédios e tratamentos fictícios e, sobretudo, a “enfrentar o vírus de peito aberto”, o presidente incentiva, sim, mesmo que de forma indireta, o suicídio, caríssimo Sr. Ministro.

Mas o senhor tem razão: chegamos mesmo ao fundo do poço! Ao menos nesta semana. Pois tenho absoluta certeza de que seu presidente e o governo que o senhor representa conseguirão se superar nos próximos dias. Um abraço aí, e tudibão procêis da Bolsolândia, talkey?