DOR Agora colorizadas pela artista brasileira Marina Amaral, as fotos da garota Czeslawa Kwoka, morta em Auschwitz, ficarão mais tempo em nossa memória (Crédito:Divulgação)

Uma das mais fortes e doloridas indicações da selvageria do nazismo sempre foram as imagens da garota judia Czeslawa Kwoka. Tinha ela catorze anos de idade quando foi enviada ao campo de extermínio de Auschwitz, no sul da Polônia, em 1942. Ganhou um uniforme com o número 26947, foi fotografada e morta. As suas fotos, em preto e branco, já eram símbolo de luta contra o totalitarismo nazista. Na semana passada, no entanto, tal símbolo voltou a ser visto em todo o mundo como jamais acontecera na história: milhões de visualizações na redes sociais, e isso a partir do trabalho de uma fotógrafa brasileira: Marina Amaral, que colorizou as imagens. A sua ideia é tecnicamente simples, mas carregada de genialidade na denúncia das atrocidades cometidas pelos nazistas, atitude vital nos dias de hoje em que a extrema direita ganha novamente espaço na ideologia e nas urnas do continente europeu. Ter transformado as fotos preto e branco em fotografias coloridas fez com que as pessoas se identificassem imediatamente com o sofrimento da garota morta em Auschwitz. Além disso, sabe-se que os neurotransmissores que atuam em nosso cérebro na função da memória (sobretudo a acetilcolina) gravam mais rapidamente, e por muito mais tempo, qualquer imagem colorida em comparação com algo em preto e branco, que tende a ser logo esquecido. Com seu trabalho, Marina Amaral fez arte. E fez, ao mesmo tempo, um libelo contra o nazismo.

“Quando vemos uma foto em preto e branco, esquecemos que os retratados eram de verdade” Marina Amaral, fotógrafa

“As cores fazem com que percebamos que o mundo em preto e branco, do passado, foi um mundo real” Pawel Sawicki, porta-voz do Memorial de Auschwitz

MEMÓRIA
A cultura brasileira perde Edla van Steen

ERUDIÇÃO E TRABALHO A presença da mulher na literatura foi uma das marcantes características da escritora Edla (Crédito:Divulgação)

Edla van Steen, uma das principais escritoras e intelectuais do Brasil, morreu aos 81 anos, em São Paulo, na quinta-feira 5. Estava hospitalizada havia duas semanas em decorrência de um infarto. O vigor que demonstrou em seus últimos meses de vida, no entanto, marcará para sempre a lembrança de familiares e amigos – pessoas, alías, com as quais ela adorava se reunir, combinando duas de suas paixões: cozinhar, o que fazia de forma magnífica, e conversar sobre cultura. “Ela possuía uma personalidade agregadora”, disse à ISTOÉ a amiga e atriz Irene Ravache. “Sentia prazer em ter os amigos junto de si”. O legado de Edla compreende mais de vinte livros, entre contos, romances, ensaios, entrevistas, peças de teatro e estudos sobre arte (produção marcada, sobretudo, pela presença feminina). Destacam-se as obras “O último encontro”, “Madrugada” e “Cheiro de amor”, agraciadas com importantes prêmios. Dona de beleza ímpar e de excepcional talento como atriz, estrelou o filme “Na garganta do diabo” (1959), pelo qual recebeu amplo reconhecimento. Edla nasceu em Florianópolis, depois mudou-se para o Rio de Janeiro, onde teve o primeiro filho — o artista gráfico, diretor de arte e cineasta Ricardo van Steen. As duas filhas nasceram após a sua vinda para São Paulo.

JUSTIÇA
Cunhado de Ana Hickmann é absolvido

Divulgação

A juíza Âmalin Azis Sant’Ana, de Belo Horizonte, não mandará a júri o cunhado da apresentadora Ana Hickmann, Gustavo Corrêa. A magistrada o considera inocente da acusação de homícidio doloso (com intenção de matar). Em maio de 2016, Ana Hickmann teve invadido o seu apartamento, num hotel da capital mineira, por um homem que ameaçava matá-la. Corrêa, presente ao local, reagiu e, na briga com o invasor, o matou com três tiros. O Ministério Público afirmava na quinta-feira 5 que recorrerá da sentença porque considera que houve exagero na legítima defesa. Corrêa protestou nas redes sociais. Quanto a Ana Hickmann, ela declarou: “A Justiça se fez presente”.

SOCIEDADE
A “dívida” de Pezão

Pedro Teixeira

A omissão do Estado nas favelas alimenta o domínio dos traficantes – e os bandidos auxiliam moradores impondo um alto preço: a cega obediência a tudo que eles ordenarem. Esquecida pelo governo do Rio de Janeiro, a Biblioteca de Manguinhos está em pé graças ao trabalho individual da diretora do Ballet Manguinhos, Daiana Oliveira. O local foi agora rebatizado com o nome de Marielle Franco e o governador Luiz Fernando Pezão, que nunca fez nada pela biblioteca, compareceu ao evento. Daiana lhe disse que, a certa altura, teve de recorrer ao tráfico para que o prédio não fosse violado. Viu-se atendida. Detalhe: quem está em “dívida” com os traficantes não é a idealista Daiana. É Pezão.