A taxa de desemprego de 8,3% no País observada no trimestre até maio foi a mais baixa para esse período do ano desde 2015, quando também estava em 8,3%, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo Adriana Beringuy, o mercado de trabalho parece retomar o padrão de normalidade e sazonalidade do pré-pandemia, em que costumava haver aumento na taxa de desemprego no primeiro trimestre do ano, seguido por uma melhora gradual até o fim do ano.

“A gente iniciou ano com aumento (na taxa de desemprego), e agora já em maio a gente tem esse movimento de queda”, apontou Beringuy. “Até agora, estaria parecido um pouco com movimentos de 2019. De todo modo, o que a gente tem nessa queda de desocupação é que ela foi impulsionada por uma menor procura por trabalho”, ponderou.

Adriana Beringuy ressalta que o recuo na taxa de desemprego em maio ocorreu mais pela retração da procura por trabalho do que efetivamente pela expansão da ocupação. Em um trimestre, foram gerados 278 mil postos de trabalho, alta de apenas 0,3% na população ocupada, variação considerada estatisticamente não significativa, por ter se mantido dentro da margem de erro da pesquisa.

Ao mesmo tempo, 279 mil pessoas deixaram o desemprego, queda de 3,0% na população desocupada. “A população desocupada caiu, fazendo com que a taxa de desocupação recuasse”, afirmou. “O recuo da taxa veio mais pela retração da procura do trabalho do que efetivamente pela expansão da ocupação.”

Segundo Adriana Beringuy, a maioria das atividades econômicas mostrou estabilidade estatística na ocupação, ou seja, os movimentos de demissões e contratações ficaram dentro da margem de erro em oito das dez atividades pesquisadas.

As exceções foram a Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, com mais 429 mil contratações no trimestre terminado em maio ante o trimestre encerrado em fevereiro, e Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, com 158 mil demissões.

Adriana Beringuy ressaltou que o mercado de trabalho vinha de um período excepcional de geração de vagas após o choque provocado pela pandemia de covid-19. Ela lembra que os anos de 2021 e 2022 foram de um crescimento excessivo de população ocupada, o que fez 2023 ter essa base de comparação mais elevada, por uma expansão “muito forte de ocupação num passado recente”. Passado um movimento sazonal de dispensas no início do ano, o emprego estaria ensaiando uma recuperação.

“O que a gente tem aqui já é um ensaio. Eu já estou saindo do início de ano de uma queda na ocupação, o que, a princípio, tem a ver com a própria característica sazonal, e ensaio de recuperação da população ocupada, embora tenha sido muito pequena. A gente tem que esperar mais um pouco para ver se isso se consolida”, disse ela.

O País encerrou o trimestre terminado em maio com um contingente de 8,945 milhões de desempregados. Considerando toda a população subutilizada, faltava trabalho para 20,697 milhões de pessoas. No entanto, Adriana Beringuy reforçou que a queda na desocupação vem acompanhada ainda de uma redução na subutilização e no desalento.

Ou seja, a população inativa aumentou em 382 mil pessoas em apenas um trimestre, mas o avanço na inatividade tem sido puxado por pessoas que não querem ou não estão disponíveis para trabalhar, principalmente jovens que estão optando por se dedicar exclusivamente aos estudos.

“Essas pessoas indo para fora da força (de trabalho) não é porque estão desalentadas com o mercado de trabalho”, afirmou. “É mais um crescimento via pessoas que não querem trabalhar, porque é aquele grupo muito jovem ali.”

A pesquisadora lembrou que os dados da Pnad Trimestral referente ao primeiro trimestre de 2023 mostraram que a inatividade aumentava mais entre as pessoas de 14 a 18 anos.

Ela lembra que um recorte especial da Pnad sobre Educação referente a 2022 mostrou ainda um crescimento maior de frequência escolar desses adolescentes, o que corroboraria esse fenômeno no mercado de trabalho, uma possível tendências de jovens que estão preferindo estudar a trabalhar. “Então essa inatividade cresce por meio daqueles que estão declarando não querer trabalhar”, frisou. “No primeiro trimestre, nas populações mais velhas, a inatividade hoje já se aproxima da inatividade que era identificada em 2019. Por outro lado, a inatividade da população até 18 anos de idade, ela ainda não recuou ao que era em 2019. Esse não retorno provavelmente está ligado a não presença no mercado de trabalho de pessoas abaixo de 18 anos de idade”, acrescentou.

Adriana Beringuy reforçou que o desalento está caindo, e o País tem cerca de um milhão de desalentados a menos ante o pré-pandemia. O Brasil registrou 3,726 milhões de pessoas em situação de desalento no trimestre encerrado em maio, 244 mil desalentados a menos em relação ao trimestre encerrado em fevereiro, um recuo de 6,2%. Em um ano, 621 mil pessoas deixaram a situação de desalento, queda de 14,3%.