Apesar do início do ciclo de afrouxamento monetário, os juros elevados permanecem afetando decisões de consumo e investimentos, ajudando a manter a tendência de menor dinamismo na produção industrial brasileira ao longo de 2023, avaliou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Esse é um fator importante a ser considerado para que a gente entenda essa característica de menor intensidade do setor industrial ao longo de 2023”, afirmou Macedo.

Apesar do início em agosto dos cortes na taxa básica de juros, a Selic, a política monetária permanece restritiva, trazendo ainda reflexos negativos para o setor industrial, avaliou o pesquisador.

“A taxa de juros mais elevada afeta o comportamento das famílias em decisões de consumo, afeta a produção”, disse Macedo. “No caso de empresas, afeta a confiança, decisões do empresariado de investimentos.”

Ele reconhece que o efeito positivo sobre a atividade econômica do afrouxamento monetário já em curso pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central se dá com alguma defasagem de tempo.

“De fato tem defasagem em relação a tomadas de decisões e efeitos não só na produção industrial, mas na economia. É possível que venha a acontecer, mas a gente não tem como afirmar”, ponderou Macedo. “A gente sabe que tem ali uma defasagem temporal. A trajetória descendente da taxa de juros claro que tem reflexo sobre confiança não só do consumidor, mas também do empresariado. Você tem algumas notícias que trazem algum alento, mas isso ainda não tem efeito direto sobre a trajetória do setor industrial ao longo de 2023.”

Em outubro de 2023, a produção estava apenas 0,3% acima do nível de dezembro de 2022, indicando um “comportamento de estabilidade” neste ano, frisou André Macedo.

“(A indústria) Mantém aquele comportamento de menor intensidade, variações muito próximas da estabilidade, que acaba sendo uma marca do ano de 2023 para o setor industrial”, resumiu Macedo.

A produção industrial brasileira cresceu apenas 0,1% em outubro ante setembro, após ter ficado estável (0,0%) no mês anterior.

“Se a gente quiser enxergar um fato positivo, é que desde julho o setor industrial não mostra queda na produção”, lembrou. “A produção industrial opera ainda em patamar em torno de janeiro e fevereiro de 2009. O setor industrial não consegue sair em torno desse intervalo. O setor industrial não sai desse patamar, permanece distante do seu ponto mais elevado da série histórica alcançado em 2011”, reforçou Macedo.

Em outubro, a indústria brasileira operava 18,1% aquém do pico alcançado em maio de 2011.

“Há um espaço importante ainda a ser recuperado por esse setor industrial das perdas relevantes do passado recente”, disse Macedo.

Na categoria de bens de capital, a produção está 37,0% abaixo do pico registrado em abril de 2013, enquanto os bens de consumo duráveis operam 42,2% abaixo do ápice de março de 2011. Os bens intermediários estão 15,3% aquém do auge de maio de 2011, e os bens semiduráveis e não duráveis operam em nível 13,5% inferior ao pico de junho de 2013.

Macedo confirmou ainda que o aumento sazonal da demanda por bens de consumo industriais na reta final do ano não ajudou a aumentar a produção. “A parte de bens de consumo, que é bem atrelada a essas encomendas do fim do ano, ela marca dois meses seguidos de queda (na produção)”, frisou.

O pesquisador lembrou que a seca severa no estado do Amazonas prejudicou a produção de indústrias de bens de consumo na região da Zona Franca de Manaus. O transporte de matérias-primas foi afetado, atingindo especialmente a produção de bens de consumo duráveis, como os eletroeletrônicos.

“Mas a perda nessa categoria econômica (duráveis) não deriva só de fator pontual, tem uma conjuntura por trás”, disse Macedo. “A questão do crédito, a taxa de inadimplência, o maior endividamento são fatores importantes para compreender a perda que bens duráveis tem em relação a patamares anteriores.”