A relação entre a Secretaria Municipal de Cultura e a organização social responsável pela gestão do Teatro Municipal tem gerado discussões desde o início do ano. Apesar de defender a autonomia da OS, o secretário André Sturm nomeou cargos como o de regente titular e integra o conselho artístico.

Carlos Gradim defende a autonomia como fundamental, mas afirma que ela não significa ausência de diálogo. “Quando um governo começa a interferir de fato? Vivemos isso agora no Rio (o MAR anunciou o desejo de levar ao Rio a exposição Queermuseum, mas a prefeitura do Rio se opôs). Chega um momento em que o poder público exerce uma autoridade que ele de fato tem. Mas ele não pode tapar a minha boca. Eu fui ao Jornal Nacional, falei o que acreditava, que o espaço público de cultura pertence à sociedade e não ao governante. Se é público, é para todos, e não pode estar sujeito às crenças religiosas de um governante que começa a atuar como censor. No Municipal, tem havido diálogo. E se ele for uníssono, perde-se a tensão saudável.”

Questionado sobre se é possível mantê-la “saudável” com a presença do secretário no conselho artístico, Gradim afirma que tem havido “respeito”. “Temos lidado com isso bem. O conselho tem além de mim, da Tatiana Rubin, diretora executiva do teatro, e de André Sturm, o Ismael Ivo, diretor do Balé da Cidade, e Roberto Minczuk, regente da Orquestra Sinfônica Municipal, artistas que nos foram colocados como condição. E que bom, são duas pessoas com personalidade. É um namoro ainda, mas que vai dar casamento. Tanto que já temos a grade do ano que vem pronta. E mesmo o Sturm tem proposto ideais importantes, como a de ter um conceito. A relação está bacana e saudável.”

Ainda assim, essa configuração, independentemente deste caso específico e desses profissionais, não afasta o fantasma de ingerências políticas no processo artístico, abrindo a possibilidade de que pessoas não alinhadas ao projeto acabem integrando a instituição por determinação da prefeitura? “Eu sou, em última análise, o empregador deles. Não gosto de radicalismos, mas no limite eu tomo a decisão final sobre a contratação. No limite, é isso. Eu digo ‘que bom’ porque Ismael Ivo e Roberto Minczuk são duas pessoas muito comprometidas. O Odeon não fará algo em que não acredita. Mas a relação, cada um no seu quadrado, está se construindo bem.”

Gradim defende a ideia de extinção da Fundação Teatro Municipal, proposta por Sturm, com o contrato de gestão passando a ser firmado diretamente entre OS e secretaria. “Não sei como surgiu essa configuração atual, mas em um primeiro momento acho a fundação completamente dispensável. Os órgãos de controle estão no poder público e isso não vai mudar. Um modelo começa a fluir bem quando você tem uma política clara pública e uma OS que faz eco a ela, pactuando direitos e deveres. Se uma instituição cria um modelo e uma visão, nenhuma secretaria pode mudar isso.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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