O governo Bolsonaro leva a marca indelével do caos e da insegurança. Por isso, é tarefa hercúlea arriscar qualquer vaticínio sobre o que vem por aí. Tudo pode acontecer. Até mesmo nada. Nietzsche, que uma vez terminou um livro com “ou…”, se descrevia como o “filósofo do talvez”. Guardadas todas as proporções e mesmo sem ter lido um filósofo que o valha, Bolsonaro – pode-se dizer – é o presidente do “talvez”.

Senão vejamos. Ocupemo-nos de tentar encontrar respostas sobre o futuro de sua gestão. Ele será capaz de recolocar a economia nos trilhos? Talvez. Conduzirá com mais fluidez a relação com o Congresso? Pode ser que sim. Ou não. Em algum momento irá refugiar-se no silêncio para evitar temperar crises com os seus inócuos espasmos verbais? Quem sabe. Seguirá aliado de Sergio Moro até 2022? Deixará de ouvir as diatribes de Olavo de Carvalho? São hipóteses. Largará o léxico cáustico da campanha para finalmente portar-se à altura do cargo de presidente da República? É possível, não provável. Vai parar de boicotar a Lava Jato? Em algum momento apoiará a Lava Toga? Então… será? Deixará de considerar o jornalismo profissional o inimigo número um do governo? Ousará ressuscitar a CPMF ou algum imposto congênere? Depende… Irá radicalizar ainda mais o discurso até o fim do governo? Há chances, mas não é certo… Brasil abaixo dos EUA e filhos sempre acima de todos? Só Deus sabe … Terminará o mandato? Quiçá.

Não há nada que mais afugente investidores e desalente a população do que a imprevisibilidade. A crise de confiança – é sempre bom lembrar – foi um dos fatores determinantes para a queda de Dilma Rousseff. Bolsonaro gosta da ordem no sentido de segurança. São Tomás de Aquino dizia que ordem são as coisas no lugar. As coisas não estão em seus lugares, logo em desordem, quando pululam ruídos na comunicação, ministros são desautorizados publicamente e defenestrados sumariamente sem qualquer pudor ou cerimônia, aliados vão de heróis a vilões, de diletos amigos a traidores num átimo de tempo e decisões são revogadas ao sabor dos ventos. Não há como refutar: essa é a fotografia do momento.

Nietzsche odiava ser fotografado. Chamava a fotografia de “execução pelo ciclope”, aquele monstrengo de um olho só. É bom Bolsonaro abrir os olhos. Os dois. Nas últimas semanas, caprichou no mantra, não raro, esgrimido em tom de ameaça: “Se não me apoiarem (em tal iniciativa), o PT volta”. Ocorre que começa a povoar o imaginário popular a sensação de que muitos dos vícios do PT, de certa forma, permanecem incrustados no Palácio do Planalto. Sob outros signos e cores, por óbvio. É o velho “nada mais parecido com um Luzia do que um Saquarema no poder”. Para ficar igual ao PT, só falta um grande escândalo de corrupção. Surgirá? Talvez.

 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias