A possível construção de uma ponte para ligar a região de Santos ao Guarujá poderia trazer prejuízo às operações do porto de Santos, levantando riscos até de acidentes nas imediações. As ponderações foram feitas por especialistas e representantes do setor, durante evento promovido pela Fiesp nesta terça-feira, 10, para debater as soluções para a ligação seca na região, sonho antigo dos moradores.

“Muito se fala sobre a altura da estrutura (que vai ter 85 metros no vão central), mas a nossa maior preocupação é no espaçamento entre os pilares”, defendeu a diretora de infraestrutura da Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP), Jennyfer Tsai. Ela destacou que, diferentemente da ponte Rio-Niteroi, que é ponto de passagem, a área em que a ponte seria construída fica em região de manobra.

“Hoje o canal de navegação tem 220 metros em maior parte. Mas a ultima campanha feita pelo ministério já colocou 350 metros”, disse, defendendo que a tendência é chegar aos 370 metros nas principais curvas.

Segundo Jennyfer, ainda que a ponte tenha estruturas de proteção, o casco do navio pode ser danificado, comprometendo toda a operação. “Isso traz risco, uma vez que fecha o porto”, afirmou.

De acordo com Clythio van Buggenhout, presidente do Conselho Deliberativo da ABTP, o que normalmente existe depois das primeiras pontes nesta característica são operações de embarcações secundárias, não navios de grande porte. “Com aumento da restrição, ainda que não haja restrições com altura, aumenta a estatística de um incidente qualquer. Um acidente com ou sem derramamento de poluentes vai implicar em aumento de custos por parte operacional. Sabemos como é isso. Eu, como oficial da marinha, sei que a corporação foca corretamente na segurança na navegação”, disse.

De acordo com Buggenhout, se fosse para optar em ter ou não o obstáculo da ponte, “é óbvio que optaríamos por não ter”, afirmou.

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A Fiesp promoveu um workshop nesta terça-feira para discutir a melhor opção de ligação seca entre Santos e Guarujá. O Governo do Estado de São Paulo, na gestão anterior, fez a opção pelo túnel. Já nesta gestão, fez-se a opção pela ponte. A possibilidade de a instalação de um limitador artificial no maior porto da América Latina tem preocupado o setor, uma vez que os navios estão cada vez maiores e a ponte pode dificultar o trânsito das embarcações.

A ponte projetada pela Ecovias, que é a concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), principal ligação entre a região metropolitana de São Paulo e o Porto de Santos, terá 7,5 quilômetros de extensão entre Santos e Guarujá. O custo previsto da obra é de R$ 2,9 bilhões. Em troca, o governo estenderia o contrato de concessão da Ecovias, que vigora até 2026.

A empreitada da gestão de João Doria de fazer uma ligação seca – atualmente o trajeto pode ser feito por balsas – está longe de ser uma briga nova. Há mais de 90 anos, diversos governos tentaram avançar com o projeto, mas sem sucesso.


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