A reunião de um grupo de oito empresários brasileiros com o vice-presidente Hamilton Mourão terminou num tom diferente do encontro realizado na quinta-feira, 9, com investidores estrangeiros. Há dois dias, o governo basicamente tentou se esquivar das responsabilidades sobre o aumento do desmatamento. Mas, ontem, sexta-feira, 9, sob a pressão de executivos de grupos como Suzano, Shell, Natura e Itaú, acabou assumindo alguns compromissos.

“Hoje (ontem), o vice-presidente foi afirmativo ao dizer que o governo vai fixar metas para reduzir o desmatamento e não tergiversou como ontem (quinta-feira). O discurso está mudando, o governo já entendeu que o combate a atos ilegais e criminosos é responsabilidade dele”, disse Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBA) e ex-governador do Espírito Santo. “Conseguimos avançar, mas só com atos concretos é que criaremos outra visão da opinião pública internacional. A bola está do outro lado.”

Segundo um dos participantes do encontro, que pediu para não ser identificado, os presidentes de empresas deram relatos fortes ao vice-presidente sobre os efeitos do desmatamento na Amazônia nos negócios e na economia. Empresas de agronegócio relataram que a soja brasileira começa a enfrentar boicotes em alguns países, por exemplo. A saída dos fundos de investimento também tem potencial de causar danos nos financiamentos às empresas privadas de maneira geral.

Os empresários também sugeriram a Mourão iniciativas a serem adotadas pelo governo, como assumir o controle do rastreamento de todo o gado. O governo já teria a expertise e o programa não teria grandes impactos nos cofres públicos.

Para o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, a principal notícia da reunião foi a promessa de um plano de redução do desmatamento na Amazônia com metas semestrais até 2022, embora não tenha dito qual será essa meta. “Não existe bala de prata na Amazônia, nada é simplista, mas nós notamos por parte dele compromisso e boa vontade”, disse Britto.

“Houve uma inflexão. É positivo o Estado dizer: reconhecemos que é grave e vamos tomar medidas”, disse Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). “Do lado dos empresários, a principal mensagem é que preservação e produção podem conviver.”

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Após o encontro, a Cargill – que foi representada no encontro pelo seu presidente, Paulo Sousa – divulgou nota defendendo a “aplicação integral das normas aplicadas no código florestal”, assim como “ações claras de comando e controle contra o que foge e que é ditado pelo código”. E reforçou seu compromisso em transformar as cadeias de suprimentos que abastecem a companhia para que não haja desmatamento.

Também em nota, o presidente da Suzano, Walter Schalka, disse que a reunião foi positiva. “Reforça a necessidade de dialogarmos e construirmos juntos, entes públicos, iniciativa privada e sociedade em geral, um caminho que permita ao Brasil assumir um papel de protagonismo nas discussões ambientais globais.”


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