Um tema que preocupa a Igreja é a apreensão manifestada pelo governo Bolsonaro sobre questões políticas e sociais a serem abordadas no Sínodo. O arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, admite que declarações de autoridades federais assustaram os bispos. Mas observou que o problema parece superado, após vários contatos, entre os quais uma reunião em Manaus entre representantes católicos e militares, entre eles o general César Augusto Nardi de Souza, do Comando Militar da Amazônia. “O próprio general fez suas colocações, e o arcebispo militar, dom Fernando José Monteiro Guimarães, esclareceu a questão, ao nosso ver.”

Segundo ele, apesar de o governo ainda ter a possibilidade de recorrer ao Vaticano, via embaixada, esse caminho não deve ser usado. “Foi na campanha eleitoral que começou tudo isso. O governo, que se diz de direita, considera a Igreja de esquerda. Mas a Igreja não é partido político. Não é de esquerda. Não aceita essa qualificação, essa etiqueta. A Igreja é para todos”, diz o cardeal emérito.

O cardeal, que evitou falar de política, sobre a gestão Bolsonaro ou a chamada pauta conservadora no Congresso, lembrou ainda que o papa Francisco se pronunciou duas vezes nos últimos meses contra a internacionalização da Amazônia, um dos temores daqueles que fazem restrições ao Sínodo.

Ele também rebateu a noção de que alguns organismos da Igreja são de esquerda, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). “Às vezes se confunde. O Cimi sempre defendeu o direitos dos indígenas, mas isso não significa ser esquerda. Os direitos humanos são para todos. A CPT se dedica aos direitos dos trabalhadores e questões sociais. São direitos que estão na Constituição.”

O cardeal emérito observa que “nunca um governo fez restrições a um Sínodo”. “Esse governo apresentou uma questão sobretudo de soberania nacional. Mas todos sabemos que o Sínodo é da Igreja e para a Igreja. Não é para políticos, militares e outros”, ressaltou, destacando que não há espaço para esses grupos na discussão, mesmo a pedidos.

Segundo ele, causou “estranheza” o fato de a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ter sido mobilizada para monitorar reuniões preparatórias para o Sínodo em paróquias e dioceses, conforme noticiou o jornal O Estado de S. Paulo. A questão, como admite o prelado, já chegou ao papa Francisco. “Não sei dizer como ele reagiu. Apenas digo que a questão deve ter chegado até a Santa Sé. Mas o Sínodo continua normalmente.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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