31/01/2020 - 0:28
Os democratas alertaram nesta quinta-feira que absolver o presidente Donald Trump do abuso de poder no processo de impeachment equivaleria à “normalização da ilegalidade”.
No que poderia ser sua última tentativa para conseguir destituir Trump da presidência dos Estados Unidos, os promotores da Câmara expressaram indignação em relação à afirmação do advogado defesa, Alan Dershowitz, que disse que o presidente pode fazer quase tudo que considere de interesse público.
Adam Schiff, líder dos promotores do julgamento do processo de impeachment na Câmara dos Representantes, afirmou que a declaração atinge as leis americanas e relembram caso Watergate, que ocorreu há 45 anos e envolveu o então presidente Richard Nixon.
“O que vimos nos últimos dias chega a ser uma loucura constitucional”, disse Schiff durante o julgamento no Senado.
“Quase meio século atrás, tivemos um presidente que disse que quando o presidente faz alguma coisa, isso significa que não é ilegal”, afirmou.
“Não aprendemos nada nos últimos 50 anos?”, acrescentou.
– “Francamente uma desgraça” –
Schiff falou no segundo dia de perguntas apresentadas à promotoria e à defesa pelos 100 senadores que vão julgar o processo.
Trump, o terceiro presidente da história dos Estados Unidos a ser submetido a um processo de impeachment, está enfrentando acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso relacionadas ao seu plano de pressionar a Ucrânia a abrir uma investigação sobre o pré-candidato democrata à presidência Joe Biden.
As acusações contra Trump são por supostamente reter 391 milhões dólares em ajuda militar para a Ucrânia, a fim de forçar Kiev a abrir uma investigação contra Biden e seu filho, que trabalhava para uma empresa do país europeu.
Os democratas afirmam que essa atitude representa um convite ilícito a um governo estrangeiro para interferir nas eleições americanas.
Trump negou várias vezes ter agido de forma incorreta, descrevendo todo o processo como uma “caça às bruxas” com motivações políticas.
O presidente dos Estados Unidos disse nesta quinta-feira num pronunciamento em Michigan que este processo de impeachment “francamente, é uma desgraça” para o país.
– Argumento perigoso –
A equipe de defesa de Trump argumentou alternadamente que o julgamento tem motivações políticas, que o presidente tinha motivos para investigar seu rival político e que ele tem o direito de fazer isso como presidente.
Na quarta-feira, Dershowitz, um famoso advogado e ex-professor da Universidade de Harvard, disse que o presidente poderia fazer essas exigências se pensasse que sua reeleição era “de interesse público”.
“Se um presidente faz algo que acha que o ajudará a ser eleito a favor do interesse público, esse pode não ser o tipo de assunto que resulte em um julgamento político”, acrescentou.
Democratas e grande parte da comunidade jurídica dos Estados Unidos ficaram impressionados com a declaração.
“Não consigo pensar em algo mais perigoso para a nossa democracia”, disse Neal Katyal, ex-funcionário de alto escalão do Departamento de Justiça e professor de direito da Universidade de Georgetown.
“Qualquer presidente pode dizer: ‘diabos, estou fazendo isso pelo interesse da nação”, acrescentou.
“Parece que estamos retrocedendo. Se o presidente disse isso, não é ilegal”, afirmou Schiff.
“Isto é a normalização da ilegalidade. Eu espero que todos os americanos reconheçam que é errado procurar ajuda estrangeira numa eleição americana”.
– Os eleitores devem decidir –
A equipe de defesa de Trump evitou o assunto e argumentou que era inapropriado tentar destituir um presidente popular através de um processo de impeachment em ano eleitoral.
O advogado da Casa Branca Pat Cipollone disse que os democratas estão usando esse processo “como arma política” e que os eleitores, e não o Senado, devem decidir o destino de Trump nas eleições de novembro.
“Deixemos nas mãos do povo dos Estados Unidos… que é quem deve decidir quem deve ser o presidente deste país”, declarou o advogado.
Eric Herschmann, outro advogado de Trump, insinuou que a popularidade e o sucesso político do presidente invalidavam qualquer tentativa de condená-lo no julgamento.
“A aprovação do presidente enquanto estamos no meio deste julgamento político atingiu o nível mais alto de todos os tempos”, disse Herschmann.
“Nós, os americanos, estamos felizes (…) Confiamos no povo americano para decidir quem deve ser nosso presidente”, acrescentou.
– Dura batalha –
Os democratas admitem que estão travando uma dura batalha para convencer os republicanos a agir contra Trump.
Após a sessão de quinta-feira, eles terão poucas horas na sexta-feira para pressionar o Senado a convocar testemunhas diretas da suposta falta de Trump.
O primeiro da lista é o ex-conselheiro de segurança nacional da Casa Branca John Bolton, que supostamente afirma em um livro ainda a ser publicado que Trump pessoalmente lhe disse que a ajuda militar para Ucrânia estava ligada à investigação de Biden.
Mas os democratas precisam obter a maioria do Senado para poder convocar testemunhas, e os republicanos tem a maioria na casa, com 53 representantes, contra 47 dos democratas.