13/02/2023 - 16:27
O trabalho da Cia Dança sem Fronteiras, criada em 2010, tem uma premissa essencial: a acessibilidade. Fazem parte do grupo mulheres, homens, pessoas trans, de várias etnias, idades, alturas, pesos, com algum tipo de deficiência. Para comemorar os 12 anos da companhia será lançado no dia 23 de fevereiro, às 19h, na sede da SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt, o livro Frestas Poéticas.
Idealizada por Fernanda Amaral, bailarina, coreógrafa, criadora e coordenadora da Dança em Fronteiras, a publicação do selo Lucias tem edição da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), entidade responsável, entre outros projetos, pela gestão da SP Escola de Teatro, e faz parte do projeto Frestas Poéticas — Cartografias do Corpo Diverso no Urbano, contemplado em 2022 pela 31ª edição do Fomento à Dança para a cidade de São Paulo.
Este edital fomentou durante 10 meses a pesquisa promovida pelo grupo e a criação de 12 ações performáticas, oito vídeo danças e uma exposição, além da circulação do espetáculo Ciranda de Retina e Cristalino, e ações educacionais de oficina, jams de dança e residência coreográfica. A Dança sem Fronteiras começou quando a gaúcha Fernanda Amaral retornou ao Brasil em 2010, depois de mais de duas décadas na Europa e nas Américas desenvolvendo trabalho com uma série de ações de investigação e pesquisa sobre a diversidade e as habilidades mi stas na dança.
“Eu morava no Reino Unido, mas trabalhava em muitos lugares da Europa, eu viajava muito. Voltei para cá com essa ideia, de que a dança não tivesse fronteiras, nem físicas, nem com relação ao corpo e às artes. Sou apaixonada por São Paulo que é, na minha opinião, uma das cidades mais incríveis do mundo, além de ser um polo cultural importantíssimo. Minha formação como atriz, como preparadora corporal tinha sido aqui e foi pra onde eu quis voltar. Achei que seria o lugar que acolheria esse trabalho”, conta a coreógrafa.
Lá fora, Fernanda teve contato com pessoas de vários países, de culturas distintas e percebeu que era muito mais rico o trabalho com corpos diversos, de pessoas de diferentes formações, países e tradições. “Eu achava que isso representava mais o mundo que a gente vive. Trabalhar com deficientes foi uma decorrência. Comecei a trabalhar com pessoas, bailarinos, atores, estudantes, com as deficiências mais diversas e a notar também a necessidade de trabalhos que representassem essa diversidade de diferentes formas de entender e expressar o mundo. E a necessidade ainda da acessibilidade, de ter lugares que fossem acessíveis, que recebessem artistas diversos, públicos diversos, po rque os artistas refletem a plateia e a plateia reflete os artistas, uma coisa vem junto com a outra”, explica ela.
A partir dessas experiências, ela criou a companhia, onde todas as atividades são realizadas com uma abordagem na cultura corporal do movimento acessível a todos, acolhendo a diversidade e enfatizando o potencial dos participantes com o foco na criatividade e igualdade. Com seu grupo, a Fernanda promove a dança contemporânea como um bem cultural acessível a todos, ampliando os horizontes artísticos e sociais para além dos rótulos, questionando fórmulas e preconceitos sobre “dança”, “deficiência” e “profissionalismo”.
Mais um fruto da parceria entre Dança sem Fronteiras e SP Escola de Teatro, Frestas Poéticas celebra a trajetória da companhia desde a sua criação. “O título do livro vem da imagem da natureza rompendo o concreto, quando nasce uma planta. A gente se identifica com essa imagem, a gente rompe os padrões e mostra que há beleza de várias formas, não de uma forma só. E quer emos mostrar que São Paulo tem beleza também, que há muitas frestas nesse concreto, nessa grande metrópole. O projeto é esse, retomar o urbano, retomar a rua, o presencial depois de dois anos de pandemia e estar muito online, retomar os espaços públicos. Celebrar os doze anos porque não deu pra celebrar os dez”, esclarece Fernanda.
A publicação é dividida em três partes e conta com textos de Fernanda Amaral em todas, falando sobre o surgimento da companhia, o processo de criação e a metodologia utilizada nas diferentes atividades. Para falar especificamente sobre o tema de cada uma das partes, foram escolhidos parceiros que têm uma relação forte com o trabalho da Dança sem Fronteiras. O diretor executivo da SP Escola de Teatro Ivam Cabral escreveu sobre os pressupostos da acessibilidade; a performer, educadora e artista multimídia Sarah Ferreira discorre sobre os trabalhos de vídeo dança; e artista, pesquisador e educador Robson Ferreira, aborda o trabalho educati vo do grupo.
“Fernanda Amaral já é nossa parceira desde a fundação da SP Escola de Teatro. Aqui realizou cursos e residências artísticas. O mais bacana, que o leitor dessa nossa nova edição publicada pelo selo Lucias poderá notar, é a similaridade de nossos projetos artísticos e pedagógicos. Assim como nós, a Dança sem Fronteiras compartilha da proposição da acessibilidade em vez da inclusã ; ; ;o, porque promover acessos garante autonomia enquanto o conceito de inclusão é restrito e impositivo”, ressalta Ivam.
Sobre Fernanda Amaral
Fernanda Amaral é bailarina, coreógrafa e educadora com 35 anos de experiência profissional. Possui vários títulos internacionais em dança, teatro e educação, incluindo vários certificados em DanceAbility desde 2005. Recebeu vários prêmios: Bonnie Bird pelo Centro Laban em Londres, Arts Council no País de Gales e Lisa Ulman França, entre outros. Em 1993 fundou Patuá Dance Companhia de Dança-Teatro, em 2005 a Patuá DanceAbility, ambas no País de Gales, e em 2010 criou a Dança sem Fronteiras em São Paulo.
Sobre a Cia Dança sem Fronteiras
A Cia Dança sem Fronteiras foi criada em 2010, em São Paulo, pela bailarina, coreógrafa e educadora Fernanda Amaral, em São Paulo. Desde sua criação, reúne diferentes linguagens artísticas para criar espetáculos, ações performáticas e vídeo danças pautados na individualidade e que refletem a diversidade de seus intérpretes. A metodologia desenvolvida por Fernanda Amaral durante seus 35 anos de trabalhos com a diversidade em dança e teatro, obteve plena ace itação na Europa e nas Américas em várias universidades, festivais e escolas profissionalizantes. Seu trabalho sempre é pautado na cultura corporal que acolhe o potencial de todos os participantes, a criatividade e a diversidade.
Nas ações educacionais, são utilizadas técnicas de consciência corporal, improvisação, DanceAbility e dança-teatro, que oferecem a todos a possibilidade de explorar e incorporar noções básicas e essenciais para o processo de improvisação, tais como tempo, espaço, dinâmica, meio e comunidade.A Companhia investiga o gesto e os movimentos de cada um dos seus intérpretes, incorporando objetos de tecnologia assistiva – como muletas, bengalas e cadeiras de rodas – para criar uma po&e acut e;tica que incentive a cultura corporal do movimento acessível. O importante para o grupo Dança sem Fronteiras é compreender a dança como sendo feita por cidadãos com habilidades mistas. Além de promovera acessibilidade e a promoção da ideia de que todo o cidadão tem seu valore é dotado de talentos diversos, essa política é inteligente ao reconhecer os ganhos que a arte – ou qualquer ação humana – tem ao incorporar a multiplicidade genética e fenotípica que é inerente à qualquer espécie.
Ficha Técnica
Livro: “Frestas Poéticas”.
Idealização e textos: Fernanda Amaral.
Textos:Ivam Cabral, Sarah Ferreira e Robson Lourenço.
Lançamento: 23/02/2023. SP Escola de Teatro – Praça Roosevelt
ISBN: 978-65-84800-03-8.
Edição: Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap).
Preço: Distribuição gratuita.
Coordenação Editorial | Selo Lucias – Ivam Cabral, Elen Londero, Joaquim Gama e Marcio Aquiles.
Direção geral e curadoria do projeto – Ivam Cabral.
Produção Geral: Jota Rafaelli (Movicena Produções).
Produção executiva: Rafael Petri.
Edição dos textos: Julia Dantas.
Revisão – Rodrigo Luiz P. Vianna.
Projeto Gráfico – Estúdio Pavio (Lídia Ganhito e Beatriz Fiel)