MILÃO, 23 ABR (ANSA) – Papiros encontrados no sítio arqueológico de Herculano, no sul da Itália, indicam o suposto local exato da sepultura do filósofo e matemático grego Platão, que viveu em Atenas entre os séculos 5 e 4 antes da Era Comum.   

De acordo com um estudo conduzido pelo papirologista italiano Graziano Ranocchia, da Universidade de Pisa, um dos maiores pensadores da Antiguidade foi sepultado em um jardim da Academia de Atenas (ou Academia de Platão), considerada a primeira universidade do mundo ocidental e destruída pelo ditador romano Sula em 86 a.C.   

O túmulo ficava ao lado do chamado “Museion”, espaço sagrado dedicado às musas da mitologia grega, segundo os “Papiros de Herculano”, conjunto de mais de 1,8 mil rolos de pergaminhos descobertos no século 18 na Vila dos Papiros, situada na antiga cidade romana de Herculano, destruída na erupção do vulcão Vesúvio que também devastou a vizinha Pompeia no ano de 79 d.C.   

De acordo com Ranocchia, a localização da sepultura de Platão aparece em milhares de letras lidas pela primeira vez em papiros sobre a história da Academia de Filodemos de Gádara (110 a.C. – 35 a.C.), filósofo epicurista que viveu em Herculano.   

Essas sequências estavam escondidas em camadas múltiplas que permaneciam grudadas desde o desenrolamento feito no passado com uma técnica mecânica que provocava o deslocamento de fragmentos inteiros de texto.   

“Trata-se de um salto de qualidade enorme, ainda que o estudo esteja apenas em fase inicial. Só veremos o real impacto em termos de conhecimento nos próximos anos”, explicou Ranocchia ao apresentar a descoberta na Biblioteca Nacional de Nápoles.   

O trabalho, financiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa (ERC), foi conduzido por meio da união de duas técnicas inovadoras: tomografia de coerência ótica e imagem hiperespectral no infravermelho, graças a um laboratório móvel fornecido pela Universidade Nottingham Trent, do Reino Unido.   

“As camadas múltiplas representam um problema dramático para a leitura de quase todos os pergaminhos que foram desenrolados, aproximadamente 1.560 dos 1.840 que sobreviveram à erupção do Vesúvio”, ressaltou Ranocchia.   

“Essas estratificações distorcem grande parte dos textos, impossibilitando sua edição. Poder finalmente identificar essas camadas e realocá-las virtualmente à sua posição original significa reunir uma enorme quantidade de informações em comparação com o passado”, acrescentou.   

O texto também aponta que Platão foi vendido como escravo na ilha de Egina em 404 a.C., quanto os espartanos conquistaram a região, ou em 399 a.C., logo após a morte de Sócrates. Até agora, acreditava-se que o filósofo havia sido escravizado somente em 387 a.C., durante sua estadia na corte de Dionísio I na Sicília. (ANSA).