Na série de debates que o jornal O Estado de S. Paulo promove no Petra Belas Artes, em parceria com o Instituto de Cultura Árabe (Icarab) e a Pandora Filmes, chega a vez, nesta quarta, 30, de Papicha, o belo filme da argelina Mounia Meddour, que concorre com A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, a uma vaga no Oscar de melhor filme internacional. O procedimento é simples – uma hora antes da sessão, programada para iniciar às 19h30, o público poderá retirar os ingressos gratuitos. Os debatedores serão o jornalista de cinema Luiz Carlos Merten e o especialista em Direito Internacional, Salem Nasser.

Papicha estreia nesta quinta, depois de integrar a programação da Mostra. Em maio, participou do Festival de Cannes na seleção oficial, integrando a seção Un Certain Regard, a mesma em que A Vida Invisível foi o melhor filme. Os dois filmes, e também Adam, da marroquina Maryam Touzani, que estreia dia 14, compartilham o mesmo tema da mulher nas sociedades autoritárias e machistas.

Papicha parece simples. A protagonista é uma garota chamada Nedjma, que produz vestidos que vende em banheiros de baladas. Najima estuda, tem um grupo de colegas. E tudo se passa em Argel, nos anos 1990, quando a islamização alastra-se pelo país e a moda, mais que supérflua, é considerada ofensiva ao status da mulher na sociedade religiosa. Radicais islâmicas invadem as salas de aula para advertir – melhor seria dizer, ameaçar.

A narrativa – olha o spoiler – segue leve e solta até que um tiro vem alterar a vida de Najima. A partir daí tudo muda – o tom, o ritmo, a ambição. Nedjma resolve desafiar as radicais promovendo um desfile na escola. Imediatamente, surge a oposição. Nedjma e suas amigas serão intimidadas, ou levarão até o fim a decisão? Não parece muito, mas um desfile de moda pode representar o mundo, com todas as suas contradições. É o que prova a diretora.

O filme baseia-se livremente numa história real. É, em parte autobiográfico, como informa a cineasta num texto da distribuidora. “Cursei a faculdade num câmpus como o mostrado no filme e, ao final do primeiro ano, quando tinha 17 anos, minha família precisou deixar a Argélia, pois intelectuais e artistas estavam sendo ameaçados. Meu pai era cineasta.”

Todas as experiências da protagonista na universidade representam o dia a dia das estudantes argelianas daquela época. “Com o fundamentalismo religioso em ascensão, a opressão vinha de todos os lados. Muitas garotas se esforçavam para chegar à universidade e morar no câmpus, para estudar, claro, mas também para ter um pouco de liberdade, fugindo do domínio das famílias opressoras.”

Na construção do filme, uma preocupação de Mounia era o tema da violência – até onde poderia ir para retratá-la. “Comprimimos uma evolução que levou anos a apenas algumas semanas”, conta. Para representar essa opressão, o câmpus da universidade funciona como um microcosmo da sociedade. “Há uma graduação no filme: os cartazes fora do câmpus, depois no câmpus e no fim até na sala de jantar. E depois a patrulha de mulheres, que invadem o quarto das garotas para vigiá-las.” O filme é forte, extremamente bem realizado e a atriz que faz o papel, Lyna Khodri, é uma autêntica revelação.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.