O papa Francisco, que quando jovem sonhava com se tornar missionário no Japão, visitará o país pela primeira vez, esta semana, levando às cidades de Nagasaki e Hiroshima mensagens muito esperadas sobre o fim das armas atômicas.

“Com vocês, eu rezo para que o poder destruidor das armas nucleares não seja nunca mais deflagrado na história da humanidade. Empregar as armas nucleares é imoral”, declarou o papa, de 82 anos, em um vídeo dirigido aos japoneses nesta segunda-feira.

“Seu país está consciente do sofrimento causado pela guerra”, afirmou Francisco, fazendo um apelo ao “respeito mútuo” que “leva a uma paz segura” que é preciso defender “com os unhas e dentes”.

Ele será recebido primeiro na Tailândia, de 20 a 23 de novembro, seguindo para o Japão, onde fica de 23 a 26 de novembro. Nos dois casos, são países de maioria budista, ou xintoísta, dotada de minúsculas comunidades católicas.

Convencido da importância de estimular os católicos ultraminoritários (menos de 0,6% da população destes dois Estados), sua visita também ressalta sua abertura para o diálogo inter-religioso.

O auge de sua 32ª viagem ao exterior será o domingo, dedicado a Nagasaki e depois a Hiroshima. Há 74 anos, bombas atômicas americanas foram lançadas, deixando 74.000 e 140.000 mortos, respectivamente, logo após a deflagração e nos meses que se seguiram.

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Os bombardeios – em 6 de agosto de 1945, em Hiroshima, e em 9 de agosto, em Nagasaki – precipitaram a capitulação do Japão no dia 15 deste mesmo mês e o fim da Segunda Guerra Mundial. O Japão continua sendo o único país a ter sido atingido pelas armas nucleares.

O diretor do centro social jesuíta de Tóquio, padre Yoshio Kajiyama, nascido em Hiroshima há 64 anos, espera com impaciência os discursos do papa sobre o abandono das armas atômicas.

“Nunca conheci meu avô, que morreu no dia da bomba”, contou, acrescentando que, “quando se cresce em Hiroshima, não podemos esquecer a bomba”.

 

O papa lançará um apelo “tão vigoroso quanto possível a favor de medidas combinadas para a eliminação total das armas nucleares”, prometeu o cardeal Pietro Parolin, número dois do Vaticano, no final de setembro, nas Nações Unidas.

O ex-ministro-conselheiro da embaixada do Japão na Santa Sé Shigeru Tokuyasu espera que a visita diminua a “mundialização da indiferença” sobre as armas atômicas. Segundo ele, porém, o papa deve evitar se pronunciar sobre a produção de energia nuclear, um tema político sensível.

Francisco se reunirá com vítimas do terremoto de magnitude 9 e do tsunami ocorridos no Japão em 11 de março de 2011. Tragédia que deixou cerca de 18.500 mortos, essa catástrofe natural foi seguida por um acidente nuclear em Fukushima.

Antes de chegar à Tailândia na quarta-feira, o papa prestou uma homenagem a uma “nação multiétnica”, que “muito trabalhou para promover a harmonia e a coexistência pacífica, não apenas entre seus moradores, como também em toda região do Sudeste Asiático”.

Nesta mensagem de vídeo aos tailandeses, o papa disse também esperar “reforçar os laços de amizade” com os budistas. Em Bangcoc, ele irá na quinta-feira a um lugar sagrado do budismo para saudar o 20º patriarca supremo Somdej Phra Maha Muneewong.

Francisco já foi duas vezes à Ásia. Esteve nas Filipinas e no Sri Lanka em 2014, depois em Mianmar e em Bangladesh em 2017, onde pediu “perdão” aos muçulmanos rohingyas. Cerca de 740.000 deles buscaram refúgio em Bangladesh desde 2017 para fugir dos abusos do Exército birmanês e das milícias budistas.


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