‘Papa tinha olhos abertos, mas não respondia’, diz médico

VATICANO, 24 ABR (ANSA) – O médico Sergio Alfieri, que coordenou o atendimento ao papa Francisco durante a internação no Hospital Agostino Gemelli, em Roma, revelou novos detalhes sobre os últimos minutos de vida do pontífice argentino, que faleceu na última segunda-feira (21), aos 88 anos, vítima de uma parada cardiocirculatória em decorrência de um AVC.   

Em entrevista ao jornal Corriere della Sera, Alfieri, chefe de cirurgia oncológica abdominal no Gemelli e cirurgião pessoal de Jorge Bergoglio, contou ter recebido uma ligação de Massimiliano Strappetti, enfermeiro do Papa, às 5h30 (horário local) de 21 de abril.   

“Ele disse: ‘O Santo Padre está muito mal, precisamos voltar ao Gemelli’. Deixei todos em pré-alerta e, 20 minutos depois, estava em Santa Marta [residência oficial de Francisco]”, mas parecia difícil pensar que fosse necessária uma internação”, declarou Alfieri.   

“Entrei no quarto, e ele tinha os olhos abertos. Constatei que não tinha problemas respiratórios, então tentei chamá-lo, mas não me respondeu. Não respondia aos estímulos, nem mesmo aos dolorosos. Naquele momento, entendi que não havia o que fazer.   

Ele estava em coma”, acrescentou o médico.   

Alfieri explicou aos colaboradores do Papa que uma internação seria inútil e que haveria o risco de Francisco morrer durante o caminho ao hospital. “Strappetti sabia que o Papa queria morrer em casa, ele sempre dizia isso no Gemelli. Ele morreu pouco depois”, salientou.   

O médico havia visto o pontífice no sábado anterior, 19 de abril, logo após o almoço. “E posso dizer que estava muito bem, ele mesmo falou isso. Levei para ele uma torta escura, como ele gostava, e conversamos um pouco. Eu sabia que, no dia seguinte, ele faria a ‘Urbi et Orbi’ [bênção pronunciada na Páscoa e no Natal], e combinamos de nos ver na segunda-feira”, afirmou.   

Alfieri também revelou que o Papa havia pedido aos médicos que evitassem a “obstinação terapêutica”, ou seja, a insistência em tratamentos mais nocivos do que benéficos a pacientes terminais, e que não o intubassem “em nenhum caso”.   

O médico também não aconselhou que Bergoglio não trabalhasse.   

“Ele é o Papa. Voltar ao trabalho fazia parte do tratamento, e ele nunca se expôs a perigos. É como se, aproximando-se do fim, ele tivesse decidido fazer tudo o que precisava”, declarou.   

(ANSA).