CIDADE DO VATICANO, 10 OUT (ANSA) – O papa Francisco sonha em ver um padre indígena em todas as aldeias da Amazônia, informou nesta quinta-feira (10) o monsenhor carmelita Wilmar Santin, bispo brasileiro da diocese de Itaituba, no Pará, que participa do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, no Vaticano. A discussão sobre a extensão do sacerdócio aos chamados “viri probati”, homens casados (preferivelmente indígenas), de fé comprovada e capazes de administrar espiritualmente uma comunidade de fiéis, reaparece na assembleia e muito provavelmente poderá se tornar um tema dominante na tentativa de responder as necessidades das comunidades locais. Um dos apelos do Pontífice é a criação de uma Igreja “com uma face amazônica”. “Estamos tentando colocar em prática o que o Papa nos pede, que os indígenas participem para dar um novo rosto à Igreja Amazônica”, explicou Santin em um briefing dos trabalhos. “Em uma reunião pré-sínodo em Manaus, outro pelado me contou qual é o sonho do Papa, que cada vilarejo tenha como ministro um padre indígena local”, acrescentou, ressaltando que, “diante das dificuldades, ele pediu para começar com o que a Igreja já permite: o diaconado permanente”.   

O monsenhor do estado do Pará, que desde dezembro de 2010 é pastor entre os indígenas Munduruku, explicou que a Igreja Católica na região já deu o primeiro passo para a mudança, constituindo ministros da Eucaristia, os chamados “acólitos” para leituras. “Fizemos um plano e percebemos que era melhor começar a criar ministros da Palavra, antes dos da Eucaristia, já que em nosso clima equatorial úmido, a hóstia consagrada não pode ser preservada por muito tempo”, contou. Em 2017, foram criados os primeiros 24 ministros da Palavra munduruku, sendo 20 homens e 4 mulheres, “que começaram a celebrar em suas próprias línguas e a pregar a palavra de Deus”.   

Já neste ano, foi formado um grupo de 48 ministros, com 29 mulheres, segundo Santin.   

O brasileiro ainda explica que a “próxima fase será criar ministros de batismo, depois casamento, porque os indígenas são cientes da importância do batismo e querem casar na igreja, querem a bênção de Deus”. “Tentaremos tê-los em todas as aldeias. Veremos quando será possível encomendar diáconos nativos. Precisamos chegar a tempo onde há pessoas”, conclui o bispo.   

Papel das mulheres – Outro tema debatido durante os trabalhos do Sínodo da Amazônia hoje é o das mulheres, para as quais as comunidades locais estão buscando formas de aumentar o papel delas na Igreja. “A Igreja tem um rosto feminino, ela é mãe, é professora, mas atualmente é basicamente irmã e discípula. Temos uma jornada a percorrer, na qual não somos os protagonistas”, explicou a irmã Gloria Liliana Franco Echeverri, presidente da Confederação Latino-Americana de Religiosos.   

De acordo com a religiosa, a “Igreja está em discernimento, e o ponto culminante não sabemos se será este ou outro momento”.   

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“Estamos avançando. Não se trata de poder, mas de serviço, do reconhecimento de um papel que, como mulheres, temos, um caminho que segue em direção a novos horizontes”. Questionada sobre a questão da violência contra as mulheres, a irmã Franco Echeverri enfatizou que “não há pessoas isentas”. “Na Amazônia, as formas mais comuns de violência são tráfico de seres humanos, intimamente ligado à questão da migração e à exploração sexual de mulheres; violência doméstica, por exemplo, ligada ao alcoolismo; a negação da lei, a possibilidade de estudar e ter acesso a cuidados de saúde eficientes”, disse.   

Por fim, a Irmã abordou a morte de mulheres, incluindo religiosas que foram assassinadas”, porque elas abraçaram a causa da defesa dos pobres e dos povos indígenas. São mulheres, religiosas, mártires”. O Sínodo da Amazônia acontece até 27 de outubro e discute novas formas de evangelização de povos indígenas e a proteção do meio ambiente. (ANSA)


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