24/09/2016 - 9:02
O papa Francisco recebeu neste sábado dezenas de familiares das vítimas do atentado de 14 de julho em Nice, sul da França, durante uma cerimônia de grande carga emocional.
“Para mim é uma grande emoção ver a todos vocês, que sofreram em seu corpo e sua alma porque em uma noite de festa a violência os golpeou cegamente, a vocês e pessoas chegadas a vocês, sem consideração de origem ou de religião”, afirmou o papa, dirigindo-se aos parentes das vítimas no grande vestíbulo da sala Paulo VI do Vaticano.
Em seu discurso, Jorge Bergoglio renovou seus apelos ao diálogo entre todos, principalmente entre cristãos e muçulmanos.
“O estabelecimento de um diálogo sincero e de relações fraternais entre todos, em particular entre aqueles que têm fé em um Deus único e misericordioso, é uma prioridade urgente”, lançou o papa Francisco, antes de abraçar e reconformar com algumas palavras particulares seus visitantes.
O presidente da metrópole Nice-Côte d’Azur, Christian Estrosi, presenteou ao papa com 86 cravos, a flor símbolo de Nice. “São 86, como nossos mortos, e são de todas as cores, como nós”, explicou.
Ao deixar o Vaticano, algumas vítimas choravam e não quiseram fazer declarações.
“Foi um momento de mágica tranquilidade depois do que nos aconteceu há 73 dias”, limitou-se a comentar Vincent Delhommel Desmarest, fundador de uma associação de vítimas.
Em 14 de julho passado, durante os festejos pelo Dia da Bastilha no Passeio dos Ingleses, na cidade balneária de Nice, 86 pessoas morreram e mais de 400 ficaram feridas ou traumatizadas quando um caminhão, dirigido por um tunisiano de 31 anos, as atropelou.
– ‘Assaltos do demônio’ –
O muçulmano Albdallah Kebaier, que sofreu nas costas o impacto do caminhão, destacou “o aspecto reconfortante da reunião”. “Tínhamos a impressão de que fomos esquecidos”, comentou, acrescentando ter ficado emocionado ao conhecer Franciso.
Na reunião também estavam presentes cerca de 150 habitantes de Nice e uma delegação oficial da associação interreligiosa “Alpes-Maritimes Fraternité”, com representantes judeus, muçulmanos, ortodoxos e protestantes.
Esta dimensão interreligiosa recebeu os elogios de Francisco, para quem “só se pode responder aos assaltos do demônio com as obras de Deus, que são o perdão, o amor e o respeito ao próximo, mesmo que este seja diferente”.
Dois imãs de Nice ofereceram ao papa um exemplar do Corão.
“A presença muçulmana aqui era indispensável, senti uma comunhão do espírito”, declarou Boubekeur Bekri, vice-presidente do Conselho Regional do Culto Muçulmano no sudeste da França. Um terço dos mortos era de confissão muçulmana.
O papa Francisco já recebeu o presidente francês François Hollande em meados de agosto para expressar seu afeto pela França, atingida desde o início de 2015 por uma série de violentos atentados.