O papa Francisco celebrou a Vigília Pascal, neste sábado (30), na basílica de São Pedro, no Vaticano, atenuando as preocupações com sua saúde frágil, depois do cancelamento de última hora, na véspera, de sua participação na via-crúcis.

O pontífice, de 87 anos, não deu sinais de fadiga apesar das duas horas e meia de cerimônia, na presença de 6.000 fiéis e antes da missa pascal, na manhã de domingo, e da bênção “Urbi et Orbi” (para a cidade e o mundo).

A basílica permaneceu às escuras antes de ser iluminada por velas, um rito que simboliza a ressurreição de Cristo, segundo a tradição católica. Em seguida, o papa pronunciou uma homilia de dez minutos em italiano, com voz clara.

Durante a liturgia, ele denunciou “os muros do egoísmo e da indiferença” e “todas as aspirações de paz destroçadas pela crueldade do ódio e a barbárie da guerra”.

Ao concluir a cerimônia, Francisco avançou pelo corredor central da basílica em cadeira de rodas, sorrindo, cumprimentando e abençoando energicamente os fiéis que se concentraram nas barreiras, muitos dos quais lhe estendiam a mão ou tiravam fotos com seus celulares.

Sua presença na cerimônia deste sábado havia sido confirmada pelo Vaticano ao meio-dia, apesar do cancelamento na sexta-feira à noite, de última hora, de sua participação na via-crúcis no Coliseu com o objetivo de “preservar sua saúde”.

O momento do anúncio – pouco antes do início da cerimônia, o que obrigou os organizadores a retirarem apressadamente a cadeira do papa – e a nota lacônica do Vaticano contribuíram para aumentar as preocupações com a saúde de Jorge Bergoglio.

Neste sábado, a imprensa italiana fez menção ao cancelamento. “A via-crúcis do papa frágil”, ressaltou a manchete do jornal La Stampa, enquanto o Il Messaggero mencionou a “renúncia de Francisco”.

O sumo pontífice argentino também havia cancelado sua participação na via-crúcis em 2023, mas, no ano passado, a decisão foi adotada depois de uma hospitalização de três dias de Francisco para tratar uma bronquite. E a ausência foi comunicada com antecedência.

– Semana com agenda carregada –

Pilar central do calendário católico, a Semana Santa, que tem uma série de cerimônias que terminam com o Domingo de Páscoa, pode ser comparada a uma maratona para um octogenário que utiliza uma cadeira de rodas há dois anos.

Nos últimos dias, Francisco cumpriu seus compromissos e presidiu a celebração da Paixão de Cristo durante quase duas horas, na tarde de sexta-feira, antes de cancelar sua presença na via-crúcis.

Mas recentemente pareceu cansado e foi obrigado em diversas ocasiões a delegar a leitura de seus discursos alegando uma bronquite, pela qual foi submetido a exames em um hospital de Roma no final de fevereiro.

Ele também suspendeu a leitura de sua homilia no Domingo de Ramos, sem dar explicações.

O cancelamento de sexta-feira reacendeu os questionamentos sobre sua capacidade para seguir liderando a Igreja Católica e seu 1,3 bilhão de fiéis.

Apesar de se submeter a uma cirurgia abdominal importante em 2023, Francisco, que nunca tira férias, segue com um ritmo de trabalho intenso no Vaticano, onde pode receber dezenas de interlocutores em apenas uma manhã.

O pontífice, no entanto, não fez nenhuma viagem desde sua visita a Marselha, no sul da França, em setembro e teve que cancelar sua participação na cúpula do clima da ONU, a COP28, em dezembro, em Dubai, também devido a uma bronquite.

Uma viagem anunciada para Ásia e Oceania nos próximos meses, que o Vaticano não formalizou até o momento, parece mais incerta do que nunca. O papa também tem prevista uma viagem a Veneza em 28 de abril.

Francisco sempre deixa a “porta aberta” para uma eventual renúncia, seguindo os passos de seu antecessor, Bento XVI. Mas, em uma autobiografia publicada recentemente, ele reiterou que não tem “motivos sérios” para renunciar ao cargo, uma “hipótese distante” que seria justificada apenas em caso de “grave impedimento físico”.

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