BUENOS AIRES, 22 ABR (ANSA) – De Ludovico Mori – “O papa Bergoglio era em público como era em família, afetuoso e atencioso. Era para todos uma figura paterna”, descreve Francisco uma de suas sobrinhas, María Del Valle Narvaja Bergoglio, filha de uma das irmãs do pontífice, Marta Bergoglio.
Entrevistada pela ANSA em Buenos Aires, nas Argentina, Narvaja destacou a enorme dificuldade que representa para um familiar de um dos personagens mais influentes e conhecidos no mundo, metabolizar um percurso íntimo como o do luto ao “dividi-lo com o resto da humanidade”.
“Para nós é muito difícil. A figura do meu tio se sobrepõe àquela do Papa e isso movimenta questões internas. Existe a sensação de termos sido privados deste processo”, afirmou a sobrinha, rompendo a postura extremamente reservada da família do Santo Padre.
“E justamente porque meu tio era em público como era no privado, é incrível testemunhar como as pessoas, sem tê-lo conhecido no dia a dia, ainda assim o conheceram como nós, em sua humildade. Ele tinha a extraordinária capacidade de te fazer refletir com poucas e simples palavras”, acrescentou.
Dentre as melhores recordações que Narvaja conserva do pontífice, estão alguns telefonemas e mensagens que chegavam impreterivelmente um dia antes de seu aniversário.
“Antes ele me ligava. Depois que virou Papa, me mandava e-mails, mesmo estando longe. Me mandava uma mensagem um dia antes de 23 de maio, sem nunca ter se esquecido. Sabia que meu aniversário era no dia seguinte, mas dizia que queria ser o primeiro a me dar parabéns. Mandava mensagens a todos os seus sobrinhos e concluía os textos pedindo para rezar por ele, dizendo que ele fazia muito mais por nós”, relembrou a sobrinha.
“Um dos meus irmãos, José Luís, fez os votos [religiosos], mas ele é muito discreto e nunca quis ser conhecido por ser sobrinho de Bergoglio”, explicou ainda a mulher.
Por fim, Narvaja comentou o quanto Jorge Bergoglio era apegado à Argentina e o quão difícil deve ter sido para ele não voltar mais para sua terra natal.
“Eu sempre pedia para ele vir, dizia que sentíamos falta dele. Fui muito espontânea com ele e sei que, no fundo, ele queria voltar, porque amava profundamente seu país. Jorge não dizia não. Respondia a seu modo afetuoso. Deve ter sido um sacrifício enorme, mas ele deve ter tido seus motivos. Ele era uma pessoa extremamente respeitosa”, concluiu a sobrinha do Papa. (ANSA).