Papa apela contra ‘toda forma de abuso’ na Igreja Católica

VATICANO, 21 JUN (ANSA) – O papa Leão XIV fez um apelo neste sábado (21) contra toda forma de abuso, sexual, de poder e de consciência, na Igreja Católica, e agradeceu também o trabalho dos jornalistas.   

O apelo foi feito em uma mensagem enviada ao Peru, por ocasião da peça teatral “Projeto Ugaz”, dedicada à Paola Ugaz, jornalista conhecida por sua investigação sobre o movimento Sodalício, agora reprimido e, portanto, no centro de uma perseguição.   

Inspirando-se na experiência de Ugaz, o Pontífice incentiva a liberdade de imprensa, porque “onde um jornalista é silenciado, a democracia se enfraquece”, informou o Vaticano News.   

“Consolidar em toda a Igreja uma cultura da prevenção que não tolere nenhuma forma de abuso: nem de poder ou de autoridade, nem de consciência ou de espiritualidade, nem de abuso sexual”, afirma o Papa.   

Em sua mensagem, lida no teatro pelo monsenhor Jordi Bertomeu, funcionário do Dicastério para a Doutrina da Fé e comissário apostólico no Peru para o caso Sodalício, Robert Prevost reitera os dois temas centrais de toda a peça: a luta contra os abusos e a importância do trabalho jornalístico realizado com verdade e liberdade.   

O Pontífice também agradeceu “àqueles que idealizaram e realizaram o Projeto Ugaz, que não é apenas teatro, mas memória, denúncia e, sobretudo, um ato de justiça”, dando “voz e rosto a uma dor silenciada por muito tempo”.   

Leão XIV destaca que, por meio dele, “as vítimas da falecida família espiritual do Sodalício e os jornalistas que as acompanharam – com coragem, paciência e fidelidade à verdade – iluminam o rosto ferido, mas cheio de esperança, da Igreja”.   

“A luta de vocês pela justiça é também a luta da Igreja, porque uma fé que não toca as feridas do corpo e da alma humana é uma fé que ainda não conheceu o Evangelho”, afirmou.   

O Santo Padre reforçou ainda que “essa ferida é reconhecida em tantas crianças, jovens e adultos que foram traídos onde buscavam conforto; e também naqueles que arriscaram sua liberdade e seu nome para que a verdade não fosse enterrada”.   

Além disso, o Papa demonstra gratidão àqueles que perseveraram nesta causa, “mesmo quando foram ignorados, desqualificados ou mesmo perseguidos judicialmente”. Ele cita, nesse sentido, a Carta ao Povo de Deus de agosto de 2018, escrita pelo papa Francisco após a difícil viagem ao Chile e o encontro com as vítimas de abuso.   

Por fim, o Prevost expressa seu mais profundo agradecimento à própria Paola “pela coragem que demonstrou ao se aproximar de Francisco em 10 de novembro de 2022 e pedir proteção contra os ataques injustos que ela e outros três jornalistas, Pedro Salinas, Daniel Yovera e Patricia Lachira, sofreram por terem denunciado os abusos cometidos por um grupo eclesial com sede em diferentes países, mas originário do Peru”.   

“Entre as numerosas vítimas de abuso, houve também vítimas de abuso econômico, os membros das comunidades de Catacaos e Castilla, que tornaram o que foi noticiado ainda mais intolerável”, escreveu ele, acrescentando que “a verdade não é propriedade de ninguém, mas é responsabilidade de todos buscá-la, protegê-la e servi-la”. (ANSA).