Oito anos antes de ser ordenado padre, o Papa Francisco acompanhava, longe do Vaticano, a criação do Código Canônico, conjunto das normas jurídicas do direito que regula a organização da Igreja Católica. O ano era 1961. Coube ao primeiro Papa nascido na América a alteração do santo código, que acaba de abrir espaço para a participação das mulheres nas liturgias da Igreja.

A carta apostólica batizada de “Motu Proprio Spiritus Domini”, foi divulgada na segunda-feira, 11, e instituiu o acesso das mulheres aos ministérios de leitorado nas missas. Essas ações de ajuda aos padres eram, até então, exclusivas dos homens. A permissão às mulheres é um dos principais avanços na Igreja, marcada pela presença masculina.

“O Papa Francisco tem consciência que as suas ações conduzem a mudanças, pequenas no presente, mas grandes para o futuro”, afirmou à ISTOÉ o presidente da Comissão para a Liturgia da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Edmar Peron. De acordo com a CNBB, a Igreja já conta com a presença das mulheres como leitoras da Palavra de Deus durante as celebrações litúrgicas, no serviço do altar, como ministrantes ou como dispensadoras da Eucaristia, mas a oficialização da medida imposta pelo Papa é uma iniciativa inédita e inovadora. Por isso, a alteração realizada pelo Papa no Código Canônico é considerada tão relevante. Especialmente porque a Igreja reconhece que sempre houve resistência à maior participação da mulheres nas celebrações da eucaristia.

“Somos um país marcado pelo machismo e estamos imersos na História. Dela recebemos o melhor e, infelizmente, também o pior”, afirma dom Edmar Peron, que complementa: “Certamente há resistências de alguns setores em relação à participação das mulheres nos muitos ministérios” da Igreja Católica, acredita o religioso.

Na carta encaminhada ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Luis Ladaria, o Papa destaca que tomou a decisão com base em recomendações dos Sínodos, como o da Amazônia, que afirmou a necessidade de se ampliar o espaço feminino. “Não só para a região amazônica, mas para toda a Igreja no mundo, é urgente promover e conferir ministérios a homens e mulheres”. Para dom Edmar Peron, esses são os desafios que a Igreja vem enfrentando no momento de sua modernização.