Os territórios latino-americanos estão fervendo, borbulhando, como uma imensa panela de pressão pronta a explodir. Isso acontece dado às dificuldades sócio-políticas e sanitárias que os países da América do Sul e Central vêm passando.

No Chile, após meses de protestos, grandes e menores, de acordo com o ritmo da pandemia, levaram o governo de Sebastian Pinera há, pelo menos, três importantes derrotas. Na principal delas o presidente acabou obrigado a fazer um acordo político que costurou a possibilidade de uma constituinte. O que coloca contornos finais na Constituição da Ditadura de Augusto Pinochet. As manifestações chilenas influenciaram os protestos na Colômbia, que se avolumaram a cada dia devido a repressão brutal por parte do governo autoritário de Iván Duque.

“As entidades de Direitos Humanos no mundo se mobilizaram para criticar essa situação colombiana”, diz Andre Kaysel, professor de Relações Internacionais da Unicamp. A situação da Colômbia requer mais atenção, pois há possibilidade real de confronto militar contra a Venezuela.

A invasão da fronteira venezuelana por mercenários colombianos, em março, tencionou as relações entre os dois países. “É uma fronteira muito complicada, envolve violência, trafico de drogas e agressões diplomáticas mútuas, devido a falta de mediadores”, diz Kaysel.

As histórias sobre a violenta repressão das forças de segurança contra os manifestantes nas ruas de Bogotá são sombrias. Há mais de 50 mortes, desaparecimentos, ferimentos oculares com perda parcial ou total de visão e outras sequelas irreversíveis.

A pandemia do novo coronavírus serviu para intensificar a crise e aumentar a pressão nos dois continentes. No Peru, além da situação política complicada, devido à rápida ascensão e queda de presidentes, o país se tornou a nação com o maior número de mortes por habitante do mundo.

Neste domingo, haverá eleições para presidência da República e a extrema-direita encabeçada por Keiko Fujimori, filha do ditador, Alberto Fujimori, tem reais chances de vencer, e,se isso acontecer, consequentemente, Keiko vai se livrar de uma condenação por corrupção.

No país vizinho, o Equador há um terrível morticínio causado pela Covid-19. A situação é tão grave que houve mortes dentro das residências, por causa da lotação nós hospitais. Os equatorianos acabaram de eleger o ex-banqueiro Guilhermo Lasso a presidência da República, ele é um representante orgânico das oligarquias mais retrógradas do país.

Apesar da vitória nas urnas, Lasso não terá vida fácil para impor sua política neoliberal porque não tem maioria no Congresso. “Sua margem de manobra se dá também pelo apoio dos EUA e do Brasil, na região”, pontua o especialista.

A Nicarágua de Daniel Ortega também vive um período conturbado devido a postura centralizadora e agressiva do presidente. Ortega vai acumulando críticas de todos os lados, desde o rompimento de relações com seus parceiros da antiga Frente Sandinista de Libertação, também da OEA e, claro, dos EUA.

Os americanos têm interesse em manter os territórios latino-americanos como sua zona de influência exclusiva. “Biden quer distanciar Rússia e China da região”, pontua Kaysel. A vacinação contra a Covid-19 ainda é lenta em toda a região, mas ao imaginarmos o momento em que as Américas Central e do Sul estiverem livres do coronavírus, a pressão tende a diminuir e o foco das disputas volta a ser único, a política.