O freio da economia diante da pandemia em 2020 desarranjou toda a cadeia de suprimentos da indústria e já se reflete no comércio e até na vida dos consumidores. Essa desordem generalizada na produção dos insumos básicos como aço, embalagens, plásticos e têxteis já prejudica 30% da indústria, impactando a oferta de produtos finais nos mais diversos setores, desde automóveis, construção civil e vestuário. Paralelamente a essa crise, houve a disparada do dólar, que elevou a cotação de vários itens essenciais. Além disso registrou-se um aumento em torno de 45% nas compras online, impulsionando a busca por embalagens. Tudo junto e misturado resultou em um cenário bastante complexo e desafiador, não só para a produção, como para o comércio brasileiro, que acusa problemas em quase 50% das compras de mercadorias.

CLAYTON DE SOUZA

A grande dificuldade é que a escassez de matérias primas, seja por aumento do consumo ou por falta de produção, não desarrumou apenas a produção no Brasil. O fenômeno foi global, segundo a coordenadora de sondagens do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Viviane Seda. “As incertezas paralisaram muitas indústrias, que optaram por reduzir custos, pessoal e investimentos enquanto aguardavam mais definições diante da pandemia”, explica. A alta do dólar desfavoreceu as importações e, em alguns setores, a indústria local não tinha capacidade para dar conta dos pedidos. No setor têxtil, por exemplo, 74,9% dos produtores reclamam da falta de insumos. Mas o maior gargalo ficou mesmo com a indústria de embalagens, seja de papelão ou de plásticos. Conforme a Sondagem Empresarial do IBRE, cerca de 30% da indústria nacional aponta dificuldade em obter embalagens. Esse percentual chega a 62,5% no segmento farmacêutico e 51,9% no de alimentos.

Já a parada na produção de aço prejudica cadeias imensas, como a automotiva e a da construção civil. “As metalúrgicas não tinham como produzir peças para carros, o que impactou não só as montadoras como todo o comércio de peças”, explica a coordenadora. E, ao que tudo indica, a falta generalizada de suprimentos deve continuar em 2021 diante do recrudescimento da doença.