“Eu, na verdade, não desejo essa nacionalidade, mas não tenho outra opção”, explica Nora, de 28 anos. Durante o verão de 2014, a palestina de Jerusalém deu entrada no passaporte israelense, uma decisão “extremamente difícil”.

Três anos depois essa advogada, que prefere não revelar seu nome verdadeiro com medo de que seu testemunho tenha um impacto negativo em seu pedido, continua esperando uma resposta das autoridades israelenses.

Ter um documento de identidade israelense vai permitir que viaje com maior facilidade e visite sua irmãs que vivem na Europa, explica em entrevista à AFP.

Também facilitaria “para trabalhar”, diz a jovem, que tem a ambição de ser juíza em Israel.

Quando conseguir um passaporte israelense, Nora deverá renunciar a viajar para a grande maioria dos países árabes, que não reconhecem Israel.

Cada vez mais palestinos de Jerusalém Oriental, a parte da cidade ocupada há 50 anos por Israel, tomam a mesma decisão, apesar de serem reticentes sobre adotar a nacionalidade do Estado que todos consideram “o inimigo”, dizem advogados e defensores dos direitos dos palestinos.

– Nem palestinos, nem israelenses, nem jordanianos –

Os mais de 300.000 palestinos de Jerusalém Oriental têm um status especial. Apesar de residirem na cidade onde querem estabelecer a capital do Estado que aspiram, não têm nacionalidade palestina, diferente da população da Cisjordânia ocupada ou da Faixa de Gaza.

Israel considera que os habitantes de Jerusalém Oriental vivem em seu território, já que essa área foi anexada à cidade santa, mesmo que a Comunidade Internacional não a reconheça, e cobra impostos dos residentes.

Outorga assim permissões como “residentes permanentes”, o que abre o acesso a direitos sociais. A vizinha Jordânia concede, por sua parte, documentos de viagem. Mas eles não têm direito a voto em nenhum desse países.

Só podem votar nas eleições municipais israelenses, mas a maioria boicota a votação porque não reconhece o município israelense que pretende exercer sua autoridade em toda Jerusalém.

Para Ziad Haidami, advogado em Jerusalém, as autoridades demoraram a responder a pedidos como o de Nora porque os pedidos são “cada vez mais numerosos”.

Em seu escritório recebeu muitos clientes com motivos variados: “um queria ser policial, outro queria estudar no exterior”, lembra.

– ‘Mal visto’ –

Todos, assegura Haidami, entram em seu escritório “se escondendo como ladrões” porque adotar a nacionalidade israelense “sempre foi e continua sendo mal visto”.

“Mas os palestinos de Jerusalém tomam cada vez mais essa decisão porque acreditam que a nacionalidade israelense os protegerá, enquanto nenhuma autoridade palestina possa fazer isso em Jerusalém”, onde Israel proíbe qualquer atividade política palestina.

Entre 2009 e 2016, dos 6.497 palestinos de Jerusalém que pediram a nacionalidade israelense, 3.349 conseguiram após passarem por várias entrevistas somente em hebraico, apesar do árabe ser a língua oficial em Israel, segundo o Centro de Ajuda Legal de Jerusalém, ONG que oferece ajuda jurídica os palestinos.

As autoridades israelenses não responderam aos pedidos de entrevista da AFP.

Mohamed tem há dois anos o passaporte azul escuro de Israel. “Não lamento em absoluto minha decisão”, afirma o homem de 27 anos que também não quer seu verdadeiro nome revelado.

“Desde então, minha vida é muito mais simples e estou muito mais tranquilo”, diz.

Funcionário em uma companhia israelense de Jerusalém Ocidental, Mohamed, que fala hebraico fluentemente, se acostumou rapidamente a sua nova identidade, mas só compartilhou sua decisão com seus familiares mais próximos porque, segundo ele, muitos desaprovam que palestinos peçam a nacionalidade israelense.

Em aspectos práticos, sua vida mudou por completo. Acabaram os problemas burocráticos e as longas filas de espera para conseguir um visto para viajar para o exteriro, afirma.

Fakhry Abu Diab, militante em uma associação anticolonização em Jerusalém Oriental, diz que entende “a frustração que leva os jovens” a tomar a mesma decisão que Mohamed, mas acredita que os palestinos deveriam “promover sua identidade” e sua presença na cidade sagrada, ao invés de “legitimar a ocupação e aceitá-la” adotando a nacionalidade israelense.