A eleição de Abraham Lincoln para a presidência dos EUA, em 1860, foi o estopim para um sangrento conflito que matou 600 mil norte-americanos e dividiu o país em dois exércitos: de um lado, os escravagistas estados sulistas; do outro, as forças do norte abolicionista, lideradas pelo presidente recém-eleito. A guerra civil foi vencida pelo Norte em 1865, mas, no mesmo ano, o assassinato de Lincoln tornaria o processo de paz inconcluso e deixaria profundas cicatrizes na alma da América que permanecem até hoje.

Eu Tenho um Sonho
Dr. Martin Luther King Jr.
Harper Collins
128 págs.
Preço: R$ 69,90 (Crédito:Divulgação)

Um século depois, em 28 de agosto de 1963, o monumento em homenagem a Abraham Lincoln, em Washington DC, foi palco de um evento que transformaria definitivamente a sociedade americana. O memorial no coração da capital dos EUA foi o destino final de um protesto pacífico que reuniu mais de 250 mil pessoas, uma multidão unida na luta pelos direitos humanos. A manifestação foi organizada por um jovem advogado que também atuava como pastor protestante, Martin Luther King Jr., então com 34 anos.

A Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, nome oficial do movimento, representou um momento político essencial para a compreensão do século 20. Não apenas pela massa humana que reuniu, mas porque teve em seu ápice um discurso que entraria para a história como um manifesto da luta contra a segregação racial e pelos direitos humanos. Eu Tenho um Sonho mostrou o poder da oratória de Martin Luther King e seu poder que inspiraria milhões de pessoas a partir de então.

O roteiro é a primeira obra publicada no País após a editora Harper Collins garantir os direitos sobre o acervo do ativista americano. Além da íntegra do texto, em edição bilíngue, o livro traz prefácio da poeta Amanda Gorman, que falou na posse do presidente Joe Biden, em janeiro de 2021. “O discurso do Dr. King perdura não só por causa de sua prosa robusta, mas também por sua impressionante poesia. Como na maioria das antigas rapsódias, o ambicioso reverendo conduz perfeitamente o lirismo, a linguagem figurativa, a rima, o ritmo e as ferramentas retóricas”, escreve Amanda.

De fato, o discurso é uma combinação perfeita de visão e emoção, conteúdo político e inspiração pessoal. É uma aula de empatia, que tanto inspira a reflexão quanto chama para a ação. Começa com uma homenagem a Lincoln: “Há cem anos, um grande americano, em cuja sombra simbólica nos encontramos hoje, assinou a Proclamação da Emancipação”. Ao final, proclama o trecho mais famoso: “Eu tenho um sonho de que meus quatro filhos pequenos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”.

Muita coisa aconteceu na América desde então. Dr. King ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua batalha contra o racismo; ele ainda organizou três grandes marchas, entre as cidades de Selma e Montgomery, no Alabama, que levaram à criação da lei do Direito ao Voto para a comunidade negra. No entanto, pagou um preço alto pela vitória: foi assassinado em 1968, quando preparava uma nova marcha para Washington, dessa vez contra pobreza. Mais de quatro décadas depois, em 2008, os EUA elegiam o seu primeiro presidente negro, Barack Obama. Esse feito histórico nunca teria se tornado realidade sem o sonho de Martin Luther King.

Amanda Gorman segue os passos de Dr. King

Patrick Semansky-Pool

Com apenas 22 anos, ela foi a mais jovem poeta a discursar em uma posse presidencial: em 2021, após se formar com honrarias na Universidade de Harvard, declamou, em Washington, seu texto O Monte que Escalamos, diante de Joe Biden e de sua vice, Kamala Harris. Amanda é a fundadora da ONG One Pen One Page, que apoia jovens carentes que desejam se tornar escritores.