O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, avisou nesta segunda-feira, 12, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o presidente Michel Temer enviaria a ele um requerimento pedindo celeridade nas investigações conduzidas pelo Ministério Público Federal em relação às delações da Operação Lava Jato. Em 35 minutos de conversa, Moraes expôs o incômodo do Planalto com o vazamento do depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que arrastou a cúpula do governo e o PMDB para o centro da crise política.

A avaliação do Planalto é a de que o governo não pode ficar “sangrando” diariamente, enquanto “pipocam” pedaços de delações não homologadas. Um auxiliar de Temer disse ao Estado que “governo nenhum resiste a esse bombardeio”, agravado pela crise econômica, ao lembrar que ainda virão outros 76 depoimentos de executivos da Odebrecht.

A estratégia do governo é questionar a legalidade das delações que vieram a público até agora e, embora o discurso oficial seja o de que não se espera a anulação dos depoimentos, o requerimento lembra que, “em situação análoga”, Janot suspendeu tratativas de colaboração premiada. Foi uma referência ao cancelamento da delação do ex-presidente da OAS, José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, após vazamento do conteúdo da proposta. Naquele caso, porém, o acordo com a força-tarefa da Lava Jato ainda não havia sido assinado.

Pouco antes de se reunir com Janot nesta segunda na sede da Procuradoria-Geral da República, Moraes foi chamado para uma conversa com Temer, no Planalto. O encontro com Janot não constava na agenda do ministro da Justiça, que previa compromisso em São Paulo, naquele horário, e só foi atualizada após a reunião vir a público.

O presidente planejou escrever o texto após conversar com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e com o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, na noite de domingo, 11, no Palácio do Jaburu. O assunto também foi discutido em almoço, nesta segunda, com os dois e também com o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR). Todos ali foram acusados por Melo Filho de serem beneficiários de pagamento de propinas pela empreiteira.

Janot não quis falar sobre a conversa com Moraes. Afirmou, porém, que eles não trataram de Lava Jato, mas, sim, da criação de um grupo para atuação em uma “investigação do Rio”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo./b>