Líderes dos países do sul da África anunciaram nesta quarta-feira (23) em Maputo um acordo para enviar tropas a Moçambique para lutar contra os grupos jihadistas que há mais de três anos aterrorizam o nordeste do país.

A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, 16 países) aprovou a missão da força de reserva “para apoiar Moçambique na luta contra o terrorismo e a violência extremista em Cabo Delgado”, afirmou a secretária executiva da organização, Stergomena Tax, após uma cúpula extraordinária.

Grupos armados conhecidos como “Al Shabab” (“jovens” em árabe) realizam cada vez mais ataques desde 2017 na província pobre e de maioria muçulmana de Cabo Delgado, na fronteira com a Tanzânia, queimando aldeias e decapitando homens.

Seus ataques se intensificaram há um ano. Até agora, porém, o presidente Filipe Nyusi havia rejeitado a ajuda externa, enfatizando a soberania do país, independente desde 1975. O exército, mal treinado e equipado, contava com o apoio de companhias militares privadas.

O eventual envio de 3 mil soldados foi abordado em maio durante a cúpula anterior dos líderes do sul da África, mas nenhum anúncio foi feito.

“As iniciativas de apoio da SADC são um importante complemento ao esforço do nosso país para enfrentar o terrorismo com, na linha da frente, as nossas forças de defesa e segurança”, disse Nyusi, que presidiu a organização durante o último ano.

– “Enorme pressão” –

Em 24 de março, um ataque surpresa na cidade portuária de Palma deixou dezenas de mortos e dezenas de milhares de desabrigados.

Este atentado, um dos mais significativos desde o início da violência em Cabo Delgado, provocou a reação da comunidade internacional e interrompeu um megaprojeto de gás de cerca de 20 bilhões de dólares, operado pelo grupo francês Total e localizado perto de Palma.

A italiana ENI, que tem outro projeto de gás na região, garantiu por sua vez na segunda-feira que sua exploração deverá começar conforme planejado em 2022.

Nyusi tem recebido “uma enorme pressão da organização para o destacamento destas tropas, uma vez que a situação em Moçambique não é apenas uma situação local, tornou-se também um dilema regional”, explicou Willem Els, do Instituto de Estudos de Segurança, à AFP.

Durante uma visita oficial à África do Sul no fim de maio, o presidente da França, Emmanuel Macron, manifestou sua disposição de “participar de operações marítimas” ao largo da costa de Moçambique, se os países da região assim o pedirem.

Portugal, antiga potência colonial, e os Estados Unidos já enviaram militares para missões de treinamento.

Líderes da África do Sul, Botswana, República Democrática do Congo, Essuatíni, Malawi, Moçambique, Tanzânia e Zimbabué participaram da reunião em Maputo. Os outros países enviaram ministros.

A violência no nordeste do país já deixou 2.800 mortos e 700 mil desabrigados, além de uma grave crise humanitária, de acordo com a ONU.

Durante a cúpula, os líderes fizeram um apelo para que a ajuda humanitária seja facilitada. Quase um milhão de pessoas, a maioria delas desabrigada, passam fome, segundo o Programa Mundial de Alimentos.

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