A solução de dois Estados “como a única possível” para o conflito entre israelenses e palestinos foi defendida amplamente pelos países do G20 reunidos no Rio nesta quinta-feira (22), um evento no qual a guerra na Faixa de Gaza ocupou um lugar central.

Na reunião de dois dias dos chanceleres do grupo, que o Brasil preside temporariamente, “destacou-se virtual unanimidade no apoio à solução de dois Estados como sendo a única solução possível para o conflito entre Israel e Palestina”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.

Vieira “só não disse unanimidade porque nem todas as intervenções (dos países) trataram do assunto, (mas) quem se manifestou apoiou, e foi muita gente”, disse à AFP uma fonte do Itamaraty.

Esse consenso também foi destacado pela União Europeia.

Nas conversas entre os chanceleres, “há um denominador comum: não haverá paz, não haverá segurança sustentável para Israel a menos que os palestinos tenham uma perspectiva política clara de construir (seu) próprio Estado”, disse à imprensa o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.

Seu contraparte norueguês, Espen Barth Eide, instou o desenho de “um caminho crível” para uma solução de dois Estados, que inclua, além do reconhecimento da Palestina, “o estabelecimento real de instituições palestinas” e “a normalização das relações entre países como Arábia Saudita e outros Estados árabes com Israel”.

O apelo da cúpula do Rio ocorre no dia seguinte ao Parlamento israelense aprovar por ampla maioria uma resolução contra qualquer “reconhecimento unilateral de um Estado palestino”, que segundo o texto, equivaleria a recompensar “o terrorismo sem precedentes” do Hamas.

“Não recompensaremos o terrorismo com um reconhecimento unilateral, em resposta ao massacre de 7 de outubro, do mesmo modo que não aceitaremos soluções impostas”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, após a aprovação do texto.

A votação ocorreu poucos dias depois de o jornal americano The Washington Post assegurar que Estados Unidos e vários países árabes trabalhavam em um plano global de paz com um calendário para a fundação de um Estado palestino, uma vez encerrada a guerra atual entre Israel e Hamas em Gaza.

– Críticas ao Conselho de Segurança –

O apoio a uma solução de dois Estados foi o foco das intervenções no Rio quase quatro meses depois de Israel lançar uma ofensiva na Faixa de Gaza, em resposta ao ataque de 7 de outubro do Hamas, que deixou cerca de 1.160 mortos, segundo balanço da AFP com base em dados israelenses.

A ofensiva israelense em Gaza deixou ao menos 29.410 mortos, segundo o ministério de Saúde do território.

Além disso, uma grave crise humanitária afeta os habitantes de Gaza: segundo a ONU, 2,2 milhões dos quase 2,4 milhões de habitantes do território estão ameaçados pela fome extrema.

Na abertura do G20, o Brasil pôs o tema na agenda, ao criticar a inação “inaceitável” dos organismos multilaterais diante dos conflitos em Gaza e Ucrânia.

“As instituições multilaterais […] não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como foi mostrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança” em relação aos conflitos na Ucrânia e em Gaza, disse Vieira.

O Brasil defendeu “uma profunda reformulação” do Conselho de Segurança, que fracassou reiteradas vezes em alcançar um acordo sobre a guerra em Gaza.

Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, voltaram a vetar na terça-feira uma resolução que pedia um cessar-fogo imediato em Gaza.

Antes de participar da reunião do G20, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, se reuniu na quarta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem expressou seu “desacordo” com as declarações de que o Exército de Israel estaria cometendo “genocídio” em Gaza de que a campanha militar israelense no território palestino seria comparável ao Holocausto.

“O secretário abordou o assunto [de Gaza] e deixou claro nosso desacordo com esses comentários”, disse um alto funcionário do Departamento de Estado após o encontro.

As declarações de Lula provocaram indignação em Israel, que declarou o presidente “persona non grata”. Em resposta, o Brasil convocou o embaixador israelense e chamou para consultas seu embaixador em Tel Aviv.

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