BRUXELAS, 19 JUL (ANSA) – Os líderes europeus ainda não entraram em consenso e a cúpula do Conselho deve seguir com reuniões pela madrugada da segunda-feira (20). Em Bruxelas, onde estão os chefes de governo, os trabalhos foram interrompidos por cerca de 45 minutos, já além da meia-noite pela hora local, para ver se é possível fechar um acordo.
Durante a reunião iniciada às 19h (14h no horário de Brasília), o presidente do Conselho, Charles Michel, fez um apelo para que as nações “frugais” – Países Baixos, Áustria, Dinamarca, Suécia e Finlândia – aceitem os termos do novo plano apresentado por ele e fechem um acordo para mostrar “unidade” no bloco econômico para enfrentar a crise causada pela pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).
O pedido somou-se a três novas hipóteses para tentar conciliar as propostas dos frugais e das maiores economias – Alemanha, Itália, França e Espanha – com uma nova redução dos subsídios não reembolsáveis para o fundo de recuperação (400 bilhões de euros contra os 500 bilhões propostos inicialmente, com outros 350 bilhões disponíveis para empréstimos), uma solução sobre o compromisso das reformas de governança e um aumento dos reembolsos – os chamados “rebates” (o mecanismo de correção da contribuição do orçamento).
Esses novos valores diminuem ainda mais a quantidade de dinheiro prevista pelo segundo plano de Michel, apresentado na tarde deste sábado (18) e que apontava uma redução de 50 bilhões de euros. No entanto, o grupo dos frugais, liderados pelos Países Baixos, se mostra relutante e pede que o fundo de recuperação baixe ainda mais, para 350 bilhões de euros – com mais 350 bilhões de euros para os empréstimos. Além disso, Países Baixos, Áustria, Dinamarca e Suécia querem que os seus reembolsos fiquem na casa dos 25 bilhões de euros.
Os pedidos desses cinco países foram considerados “inaceitáveis” pelos outros 22 Estados-membros da UE. Durante seu discurso, segundo fontes europeias, o premier italiano, Giuseppe Conte, voltou a atacar o seu homólogo dos Países Baixos, Mark Rutte, lembrando a ele que se “o mercado da União Europeia cair, ele terá que responder para todos os europeus”.
“Vocês estão se iludindo que essa partida não atinge vocês ou atinge vocês em parte. Na realidade, se deixarmos que o mercado único seja destruído, talvez você será o herói da sua pátria por alguns dias, mas depois de algumas semanas, você será chamado a responder publicamente perante todos os cidadãos europeus por ter comprometido uma adequada e eficaz reação europeia”, disse Conte para Rutte durante seu discurso.
A primeiro-ministro de Roma ainda destacou que os valores que estão sendo discutidos, na casa dos 400 bilhões de euros, “são o mínimo indispensável para uma reação minimamente adequada”. “Se a gente demorar mais, pode ser que tenhamos que dobrar ou até mais o valor”, ressaltou ainda.
Para tentar acalmar os mercados, já que a chance de não fechar um acordo é muito alta, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou que é melhor “concordar com uma abordagem ambiciosa, mesmo que peça um pouco mais de tempo” do que fechar um pacto “veloz”. Segundo analistas, a briga se concentrou em dois grupos, um liderado pela Itália e o outro pelos Países Baixos. A situação é tão inédita que até mesmo o chamado “Visegrád”, que tem Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Polônia e que comumente se opõe aos países do sul ou às propostas de Alemanha e França, se alinhou ao lado dos italianos. Além do fundo de recuperação, que visa ajudar os países mais afetados pela Covid-19, os europeus tentam fechar o orçamento para o período de 2021-2027. (ANSA)