Onze países da região Ásia-Pacífico estabeleceram, neste sábado (11), as bases de um ambicioso tratado comercial sem os Estados Unidos, depois que o presidente americano, Donald Trump, decidiu abandonar as negociações.

A outra grande potência econômica da região, a China, nunca foi convidada para esse acordo, que começou a ser negociado há mais de dez anos.

A decisão de Trump, no começo do ano, de deixar o chamado Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP, na sigla em inglês) surpreendeu muitas nações e trouxe incertezas ao processo.

Mas os onze países restantes do TPP – Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã – decidiram não desistir e avançaram nas negociações.

“Os ministros [do Comércio] estão satisfeitos de anunciar um acordo em relação aos elementos centrais” do texto, indicaram os representantes dos onze países, neste sábado em um comunicado conjunto.

O ministro do Comércio do Japão, Toshimitsu Motegi, um dos países mais interessados em não deixar o TPP morrer, assegurou que o acordo “mandará uma mensagem positiva muito forte aos Estados Unidos e a outros países da região Ásia-Pacífico”.

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O novo acordo, conhecido primeiro como TPP e depois como TPP-11 (após a retirada dos Estados Unidos), se chamará agora Acordo Transpacífico Abrangente e Progressista (CPTPP).

As negociações foram realizadas à margem do fórum econômico Ásia-Pacífico (APEC) que é realizado nesta semana na cidade vietnamita de Danang, uma organização que reúne 21 economias que representam cerca de 60% da riqueza mundial.

“O TPP-11 continua sendo o acordo comercial mais importante dos últimos 20 anos, com exceção dos da UE”, disse à AFP Deborah Elms, diretora executiva do Asian Trade Centre de Cingapura, porque não só aspira a abrir mercados em bens, mas também em serviços e investimentos.

Um primeiro rascunho do acordo, considerado um contrapeso à potência econômica da China e impulsado pelo ex-presidente americano Barack Obama, foi aprovado em 2015, e quando incluía os Estados Unidos representava 40% da economia mundial.

Mas Donald Trump reiterou, na sexta-feira em um discurso em Danang, que os Estados Unidos “não voltarão a entrar em grandes acordos” que o deixam de “mãos atadas”, e disse que optará por acordos bilaterais.

“Farei acordos comerciais bilaterais com qualquer país indo-pacífico que queira ser nosso sócio e que respeite os princípios de comércio justo e recíproco”, disse, insistindo em que não deixará que os demais se “aproveitem” da economia do seu país, a maior do mundo.

– Intensas negociações –

Nos últimos dias de intensas negociações em Danang, marcadas por desmentidos e versões contraditórias, tudo indica que as exigências do Canadá frearam um acordo que parecia iminente.

O país norte-americano exige que o tratado inclua não só aspectos comerciais (redução de tarifas, etc.) mas também “progressistas”.

Este termo faz referência a incluir no texto artigos para se assegurar de que os signatários respeitem o meio ambiente ou garantam condições de trabalho dignas, aspectos que tradicionalmente não faziam parte dos tratados comerciais.

Necessitamos priorizar os “elementos progressistas, trata-se de criar as condições do comércio para as próximas gerações”, disse à AFP uma fonte da delegação canadense.


Para os países latino-americanos do TPP-11, o acordo é crucial, particularmente para o México, que está tentando diversificar seu comércio para evitar sua grande dependência dos Estados Unidos.

O Chile também aposta no livre comércio, e junto ao TPP anunciou em Danang uma ampliação de seu atual tratado comercial com a China, “uma grande boa notícia”, nas palavras do chanceler Heraldo Muñoz.


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