Milhares de apoiadores do golpe que depôs o presidente do Níger se concentraram, nesta sexta-feira (11), em frente à base francesa da capital, Niamei, depois que os líderes da África ocidental deram o aval para uma intervenção militar no país, mas uma reunião decisiva sobre essa operação marcada para este sábado foi adiada.

Os chefes de Estado-Maior da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) se reuniriam neste sábado em Accra, capital de Gana, para elaborar um relatório sobre “as melhores opções” para o envio de suas forças, mas o encontro foi adiado “por motivos técnicos”, segundo fontes militares regionais. Uma nova data ainda não foi definida.

Em Niamei, agitando bandeiras russas e nigerinas, os manifestantes expressaram apoio aos autores do golpe e, em particular, a seu líder, general Abdourahamane Tiani, e denunciaram os planos de intervenção da Cedeao.

“Vamos expulsar os franceses! A Cedeao não é independente, é uma manipulação da França”, disse Aziz Rabeh Ali, membro do sindicato dos estudantes.

Na quinta-feira, uma cúpula da Cedeao em Abuja (Nigéria) ordenou mobilizar uma “força de reserva” para restabelecer a ordem constitucional no Níger.

O presidente marfinense, Alassane Ouattara, informou que os dirigentes do bloco de 15 países deram “o aval” para que a intervenção começasse “o quanto antes”.

– “Desestabilização” –

O regime militar, que em 26 de julho depôs o presidente Mohamed Bazoum, ainda não reagiu à decisão da Cedeao, que aumenta a pressão, sem fechar a porta para uma solução diplomática.

O presidente da Nigéria, Bola Tinubu, à frente da presidência rotativa da Cedeao, insistiu, no início da cúpula em Abuja, na necessidade de “priorizar as negociações diplomáticas e no diálogo”, embora tenha esclarecido que não se descarta “nenhuma opção, inclusive o recurso da força”.

Vários países da região expressaram cautela em relação a uma possível intervenção: os vizinhos Mali e Burkina Faso, também governados por militares, foram solidários com Niamei. Cabo verde, membro da Cedeao, declarou nesta sexta-feira sua oposição ao uso da força no Níger.

No passado, a Cedeao interveio na Libéria, Serra Leoa e Guiné-Bissau.

A França, que mantém no Níger cerca de 1.500 militares, que cooperam na luta contra os grupos jihadistas que acampam na região do Sahel, informou que “apoia todas as conclusões” da cúpula da Cedeao.

Os Estados Unidos, que também têm soldados deslocados no Níger, no âmbito de uma operação antijihadista, igualmente expressou seu apoio “à liderança e ao trabalho da Cedeao”.

A Rússia, por sua vez, reiterou sua oposição a uma intervenção estrangeira.

“Pensamos que uma solução militar para a crise no Níger poderia levar a um confronto prolongado neste país africano e a uma forte desestabilização da situação no conjunto da região do Saara e do Sahel”, advertiu a chancelaria russa em um comunicado.

Alguns dias após o golpe, os dirigentes da Cedeao tinham dado um ultimato para restituir Bazoum no poder no mais tardar em 7 de agosto, sob a ameaça do uso da força.

Mas os militares nigerinos ignoraram o prazo da Cedeao e têm dado sinais de que quererem permanecer no poder.

O último foi dado na quinta-feira, com o anúncio de um novo Executivo de 20 ministros, que inclui dois generais no comando das pastas do Interior e da Defesa.

O novo governo se reuniu pela primeira vez nesta sexta-feira e, segundo um assessor da presidência malinense, que pediu anonimato, o general Salifou Mody, novo ministro da Defesa e um dos homens fortes do Níger, fez uma breve visita ao Mali.

– Temor por Bazoum –

Os golpistas mantêm Bazoum detido, juntamente com sua mulher e filho, em condições que poderiam ser “comparáveis a um tratamento desumano e degradante”, alertou o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, com base em “informes confiáveis”.

Segundo informações divulgadas pela União Europeia (UE), Bazoum e sua família estão “privados há vários dias de alimentos, eletricidade e atenção médica”.

Um dos familiares confirmou à AFP que Bazoum “está bem”, mas que as condições de sua detenção eram “muito difíceis” e assegurou que os militares ameaçaram agredi-lo em caso de intervenção estrangeira.

Os militares no poder “mantêm sequestrado o presidente Bazoum. Pessoalmente, considero este um ato de terrorismo”, afirmou o presidente marfinense.

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