Pais de bebê reborn: psicólogo diz se a nova febre dos famosos é saudável

A "adoção" de um bebê superrealista tem conquistado famosos como Gracyanne Barbosa, Padre Fábio de Melo, Xuxa, entre outros

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Gracyanne Barbosa comprou um bebê reborn Foto: Reprodução/Instagram

Cada vez mais, a moda dos bebês reborns tem conquistado os famosos. Desta vez, a musa fitness e ex-BBB Gracyanne Barbosa movimentou as redes sociais na terça-feira, dia 6, ao compartilhar a “adoção” de um bebê super realista, chamado Benício.

“Como já disse anteriormente, meu sonho é ter um filho. Podem me julgar, no começo eu achei estranho. Mas Benício me trouxe felicidade. Te amo, bê!”, escreveu Gracyanne em seu perfil no Instagram.

A publicação deu o que falar e virou piada na internet: “Nada que um psiquiatra não resolva”, debochou uma internauta. “Depois da pandemia , ninguém ficou bem mentalmente”, brincou outra pessoa. “Que vergonha alheia”, acrescentou a terceira.

O que é um bebê reborn?

Um bebê reborn é uma boneca hiper-realista que imita um bebê recém-nascido, criada com técnicas especializadas para parecer o mais natural possível. Essas bonecas são feitas de materiais como vinil e silicone, e são pintadas à mão para simular a aparência da pele, com detalhes como veias, manchas de nascimento, sobrancelhas e cílios.

O processo de fabricação de um bebê reborn envolve várias etapas, como moldar o corpo, adicionar cabelo (geralmente de mohair ou nylon), e até mesmo fazer os olhos parecerem brilhantes e vivos. Muitas vezes, essas bonecas são usadas por colecionadores ou pessoas que têm uma afeição especial por itens realistas.

O interesse por bebês reborn também se estende a pessoas que compram essas bonecas para fins terapêuticos, como no caso de reabilitação emocional ou como uma forma de lidar com perda, oferecendo um vínculo emocional com o objeto. Há também quem colecione as bonecas como parte de uma paixão por arte e escultura.

Boneca Bebê Reborn Luciana

Febre entre os famosos

A ex-esposa do cantor Belo não é a única. Diversos famosos também são “papais” dos bonecos, como o Padre Fábio de Melo, a cantora Britney Spears, a apresentadora Xuxa, dentre outros. Existe até uma maternidade para os “recém-nascidos” em Orlando, chamada MacroBaby.

“Já está pronto o visto dela, já pode viajar para o Brasil, mesmo com a mãe tentando impedir. Ela tem visto norte-americano e até visto para entrar no Brasil, mas é americana”, disse Fábio de Melo, que adotou uma boneca reborn com Síndrome de Down durante uma viagem ao exterior, nos Estados Unidos.

A adoção foi uma homenagem à sua mãe, dona Ana Maria de Melo, falecida em 2021. Ela geralmente ganhava bonecas do filho.

Padre Fábio de Melo adota bebê reborn com Síndrome de Down e explica

Durante uma viagem ao México, Britney Spears foi vista com uma de suas bonecas.

Xuxa Meneghel também já foi vista com bebês reborn durante um passeio na MacroBaby. Jojo Todynho e Sabrina Sato também não ficam de fora da lista.

De madrugada, Xuxa Meneghel visita loja em Orlando - OFuxico

Para entender se essa febre entre os famosos é saudável e “normal”, a reportagem de IstoÉ Gente entrevistou o psicólogo Alexander Bez, que analisou os pais de bebês reborn. Leia na íntegra!

“A necessidade pode ser entendida como um preparo para ter um filho no futuro, ou até mesmo para que a pessoa sinta que já tem um filho, compreendendo como funcionaria essa experiência e como ela se veria nesse papel. Existe, portanto, uma necessidade nesse sentido — a de realmente cuidar de um baby doll, um reborn, como se fosse uma boneca ou boneco real, como você mencionou.

Serve também para que a pessoa possa explorar suas habilidades como pai ou mãe. Isso é algo interessante.

Vamos lá: algumas matérias jornalísticas, por exemplo, precisam apresentar os dois lados — tanto os aspectos positivos quanto os negativos. Nem todas, mas algumas se beneficiam dessa abordagem. Acredito que essa seja uma delas.

Do ponto de vista negativo, psicologicamente falando, entramos no campo da manifestação delirante. E onde entra o delírio? Ele se manifesta no rompimento entre realidade e irrealidade.

É nesse ponto que a necessidade pode abrir espaço para o delírio. A partir daí, o fator negativo começa a se sobrepor ao positivo. O fator positivo seria a ideia de a pessoa estar se preparando para ter um filho de forma consciente. Já o negativo surge quando isso se transforma em fuga da realidade.

Algumas pessoas podem até entender esse comportamento como uma espécie de terapia. Inconscientemente, seria algo feito para gerar tranquilidade, aliviar a ansiedade ou amenizar a solidão. Mas, quando se rompe a linha entre o real e o imaginário, a mente sofre — e o efeito pode ser o oposto: surgem ansiedade, depressão e frustração, especialmente quando o inconsciente começa a perceber que aquilo não é real. Isso gera conflitos nas ações do dia a dia relacionadas aos cuidados com esse “filho reborn”.

Esses conflitos acontecem entre as instâncias mentais: o ego e o id. O ego é a nossa instância racional, enquanto o id representa os desejos e impulsos. Isso pode afetar até o superego, que é a nossa capacidade de julgamento. Nesse processo, a pessoa pode perder a noção de que está vivendo uma situação fictícia e não querer retornar à realidade. O conflito se intensifica justamente pelo choque entre realidade e fantasia.

Ainda sobre necessidades e delírios, acredito que as necessidades poderiam ser melhor atendidas com algo mais real — como, por exemplo, um cachorro. Um filhote de cachorro é algo concreto, real. Hoje em dia, é comum vermos a nomenclatura “pai/mãe de pet”, e o cachorro oferece uma interação amorosa como nenhum outro animal. Isso é único. Nenhum outro animal do reino animal entrega tanto afeto, fidelidade e vínculo emocional quanto o cão.

O cachorro é uma alternativa real e segura, pois não promove delírios — você está lidando com a realidade. Além disso, pode ser uma companhia afetiva que ajuda a combater a solidão de forma saudável.

Outro ponto importante: às vezes, esse delírio pode surgir como uma tentativa de fuga. Fuga de uma realidade dura, de não poder ser pai ou mãe, por exemplo. E o grande problema é que o delírio, ao invés de aliviar a solidão, pode intensificá-la. Isso porque não há interação amorosa de mão dupla. É uma relação unilateral. Já com o cachorro, há reciprocidade, há fidelidade, e isso faz toda a diferença.

Essas modas existem, sim, mas o lado positivo delas se limita à ideia de experimentar como seria a maternidade ou paternidade, de forma inicial e simbólica. No entanto, se colocarmos na balança, não dá para dizer que há um equilíbrio entre normalidade e anormalidade nesse caso. O delírio tende a superar a necessidade.”

Referências Bibliográficas

Alexander Bez – Psicólogo; Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA); Especialista em Saúde Mental. Atua na profissão há mais de 27 anos.

É também autor dos livros: Inveja – O Inimigo Oculto; O Que Era Doce Virou Amargo!!! (Volumes 1, 2 e 3); A Magia da Beleza Feminina; A Paixão e Seus Encantos; e What You Don't Know About COVID-19: The Mortal Virus.