Quando Maurice Leblanc lançou “A prisão de Arsène Lupin”, em 1905, nunca imaginaria que a história do sofisticado ladrão de casaca ainda estaria fazendo sucesso mais de um século depois. Ao longo dos anos, seu personagem foi adaptado para diversos formatos: quadrinhos, peças de teatro e cinema. Nenhuma dessas versões, no entanto, atingiu a audiência alcançada na Netflix: em apenas um mês, a primeira parte da série foi assistida por 76 milhões de pessoas.

Chega agora à plataforma a parte 2, filmada durante a pandemia. O protagonista Assane Diop, personagem interpretado por Omar Sy e inspirado no “Lupin” de Leblanc, segue em seu processo de vingança contra Hubert Pelligrini, o milionário que acabou com sua família e provocou a morte de seu pai. Em um papel que desafia os limites do maniqueísmo, ele é um criminoso pelo qual temos carinho. Isso é reforçado agora pela aproximação ainda maior com o filho, o adolescente Raoul. Se na trama inicial Assane colocou seu plano de vingança em ação, dessa vez ele terá que reagir às ameaças de outro antagonista — o policial Youssef Guedira.

Apesar de ter sido criada pelo roteirista George Kay em inglês, a série manteve o idioma francês para ser fiel ao original de Maurice Leblanc

Apesar do DNA francês, “Lupin” foi criado pelo britânico George Kay, que não é fluente no idioma. “Escrevi em inglês e, após a aprovação do roteiro, traduzimos para o francês”, explica ele. Apesar do processo trabalhoso, Omar Sy garante que nunca cogitou produzir a série em inglês para alavancar a audiência. “Era essencial manter o idioma original”, afirma. Ele arrisca a dizer que o sucesso de “Lupin” vem da adaptação do personagem clássico a uma atmosfera contemporânea: “Ele transita bem entre drama, ação e até comédia”. O ator ressalta a importância das locações para o público internacional.

“Mostramos uma face de Paris muito distinta, que apenas os franceses conhecem, bem distante dos cartões-postais dos turistas”. Omar destaca, ainda, a importância da discussão sobre o legado familiar. “Assane quer vingar o pai, mas às vezes ele tem de esquecer essa obsessão e se lembrar que também tem de ser um bom pai para o filho”, afirma. Não é fácil a vida dos ladrões de casaca.