O Comitê Olímpico Internacional (COI) assumiu um risco ao levar os Jogos Olímpicos ao Rio e, agora, o tiro pode ter saído pela culatra. Quem faz essa avaliação é Patrick Nally, um dos homens mais influentes dos bastidores dos negócios do esporte, considerado o “pai” do marketing esportivo moderno e o responsável por contratar e treinar Joseph Blatter para trabalhar na Fifa.

Segundo ele, a necessidade de reduzir os gastos diante da recessão no Brasil demonstrou que o COI precisa promover uma mudança radical no modelo dos grandes eventos internacionais. Sua avaliação é de que Rio será “um ponto de virada para o movimento olímpico”.

Em 2009, quando o Rio foi escolhido para sediar os Jogos, a percepção era de que aquela crise econômica que o mundo vivia minava as chances de Chicago e Madri. Hoje, a crise é no Brasil. Alguém imaginou esse cenário?

Dar os Jogos ao Rio foi visto como a escolha certa, levando o evento pela primeira vez a um novo continente e a um país que estava mostrando sinais de um crescimento econômico. Tudo muito lógico e, dada as circunstâncias, provavelmente foi a decisão certa, já que nem Chicago nem Madri poderiam oferecer tais vantagens. O COI não teria nem ideia de como a circunstância política e econômica mudaria e não tem tido outra escolha senão a de apoiar o Comitê Organizador em todas as formas. Só podemos torcer para que a realização dos Jogos seja um grande sucesso.

O Rio teria sido escolhido em 2009 se naquele momento tivesse apresentado os planos que hoje estão sendo entregues?

Como eu disse, a escolha do Rio foi feita em circunstâncias muito diferentes e, diante das mudanças, é louvável que tanto o Comitê Organizador como o COI tenham se unido para encontrar formas para superar os problemas. Lamentavelmente, não podemos voltar o relógio. Portanto, todos precisam ir adiante.

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Como a instabilidade política no Brasil preocupa a comunidade internacional do esporte?

Infelizmente não podemos influenciar neste aspecto. Podemos apenas torcer para que os Jogos sejam um sucesso e que levantem os espíritos tanto do Rio como da nação.

Qual recado a situação no Rio manda para os planos do COI?

Com a Agenda 2020, o COI está tomando medidas, ainda que lentas, para tentar melhorar as condições econômicas das cidades-sede. O Rio enfatiza o motivo pelo qual é necessário realizar mudanças radicais. O Rio será eventualmente visto como um ponto de virada para o movimento olímpico. O COI assumiu um risco. Atualmente, o tiro parece ter saído pela culatra diante da crise que atualmente existe, tanto politicamente como economicamente, mas não existe razão para que os Jogos não sejam um sucesso esportivo global, produzindo momentos inesquecíveis, com eventos mostrando o cenário lindo do Rio. O fato de eles estarem ocorrendo em circunstâncias tão difíceis, e que o COI está introduzindo maior flexibilidade para sediar, dará a outros países em desenvolvimento a crença e a oportunidade para que possam organizar o evento no futuro. O resultado dos Jogos no Rio ainda pode ser muito positivo. Ou seja, apesar de tudo que ocorreu em relação ao evento, ele ainda produz mágica. A mágica do Rio.

A NBC indicou que vendeu um valor recorde de publicidade para os Jogos, mas teremos algum ganho para o Brasil?

A história da NBC mostra que a magia olímpica ainda está viva e bem de saúde. Vamos esperar que essa magia também funcione para o Rio e que crie um enorme clima positivo para a nação brasileira.

Como é que o Rio pode usar os Jogos para superar a crise?

Se a magia dos Jogos funcionar, se houver boa competição, se for produzido heróis, se os problemas da organização forem mínimos, um evento com êxito no Rio pode mudar o espírito de toda a nação.

O senhor teme por protestos?

Não entendo o que poderia ser obtido por qualquer grupo ao protestar nos Jogos, quando fica claro que apenas vai mostrar o Brasil e o povo de forma negativa ao mundo. O melhor é abraçar o evento e mostrar as verdadeiras cores do Brasil.

Mas alguns dos locais de eventos foram erguidos por empresas cujos CEOs estão na prisão e no Rio uma CPI foi criada para avaliar a corrupção no evento. Qual deve ser a posição do COI sobre esse problema da corrupção?


Não cabe ao COI assumir uma posição sobre os problemas da corrupção doméstica. Talvez a realização da Copa do Mundo, seguida pelos Jogos Olímpicos, tenham expostos os problemas internos do Brasil de uma forma que mudanças positivas sejam feitas e que, no futuro, o fato de ter sediado ambos os eventos evidencie que eles foram de um valor significativo para a nação.


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