SYDNEY, 15 AGO (ANSA) – As autoridades da Igreja Católica da Austrália declararam nesta terça-feira (15) que os padres não são obrigados a expor os abusos sexuais a menores revelados no confessionário, e preferem ir para a prisão a romper o segredo de confissão. As declarações foram dadas um dia após a divulgação de uma investigação nacional realizada por uma comissão australiana por mais de quatro anos, que busca respostas sobre casos de pedofilia nas instituições religiosas e públicas do país.   

O trabalho apresenta 85 propostas de reforma do sistema penal, as quais incluem penalizar quem não denunciar casos de abusos, ou mesmo quem tiver tido conhecimento deles por meio da confissão.   

Segundo o relatório “Justiça Criminal”, não deve haver isenções, “nenhuma desculpa, proteção ou privilégio” aos padres que não alertem a polícia por considerarem que “a informação sobre os abusos sexuais foi obtida mediante a confissão”, indica o relatório.   

O texto ainda diz que a comissão “soube de casos em ambientes religiosos em que os agressores, que fizeram uma confissão religiosa sobre o abuso sexual de crianças, continuaram com os crimes e pediram perdão”. O início da polêmica aconteceu desde que o cardeal australiano George Pell, prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano, se tornou pivô de um escândalo que pode abalar o discurso de combate aos abusos na Igreja que marca o Pontificado do papa Francisco.   

Considerado um dos principais conselheiros de Jorge Bergoglio, Pell, 76, anos, é acusado pela polícia do Estado de Vitória, na Austrália, de crimes sexuais supostamente cometidos na década de 1970, quando ele era padre no país.   

Ao longo dos anos, o religioso foi interrogado em diversas ocasiões, além disso foi investigado por proteger padres pedófilos entre as décadas de 1970 e 1980, quando ocupava postos de destaque nas dioceses de Melbourne e Ballarat. Pell nega qualquer envolvimento e será ouvido novamente no próximo dia 6 de outubro Atualmente, o Vaticano recebe cerca de 600 denúncias de pedofilia por ano, mas nenhuma contra um prelado de tamanha importância na estrutura da Santa Sé.   

Entre 1980 e 2015, a Igreja Católica, extremamente presente na Austrália, recebeu queixas de mais de 4 mil pessoas alegando abusos de menores cometidos por cerca de 1880 religiosos. (ANSA)