O padre Robson de Oliveira Pereira admitiu em depoimento ao Ministério Público de Goiás (MP-GO) que fez repasses aos chantagistas sem o monitoramento da polícia e usando dinheiro da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). As declarações foram dadas no processo de extorsão do qual foi vítima. As informações são do G1.

De acordo com o MP, cinco pessoas foram condenadas na ação por pediram dinheiro ao padre para ele não ter imagens e troca de mensagens pessoais expostas na internet. A defesa do padre Robson disse ao G1 que “reforça que todo o conteúdo das mensagens é falso, o que comprova que ele foi vítima de criminosos de altíssima periculosidade”.

Ainda conforme a defesa, “os responsáveis já foram condenados pelo Judiciário e cumprem rigorosas penas”. Em nota, o advogado do padre Robson afirma ainda que o pároco “não tem e nunca teve nenhum patrimônio”.

Investigação contra o padre

O Ministério Público de Goiás investiga o envolvimento do padre Robson em crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação indébita, falsificação de documentos e sonegação fiscal. O MP-GO aponta que o sacerdote fez desvios de doações de fiéis em valores que podem superar R$ 120 milhões.

A investigação teve início em 2018, quando padre Robson foi vítima de extorsão. De acordo com o G1, o juiz Ricardo Prata, que condenou o grupo, escreveu na sentença que um dos supostos relacionamento amorosos que os hackers ameaçavam expor era com um dos chantagistas que invadiu os celulares e e-mails do padre. Durante o julgamento do caso, o hacker chegou a reafirmar que teve um relacionamento com o sacerdote.

Extorsões começaram em 2017

As extorsões tiveram início em março de 2017. Dois hackers invadiram o aparelho celular e computadores de padre Robson para obter informações pessoais e profissionais. Usando perfis falsos, eles se apresentaram como detetives que haviam sido contratados para investigar o religioso. A dupla passou a exigir dinheiro para não divulgar o que havia descoberto e destruir as informações.

Conforme a denúncia do MP-GO, no dia 31 de março de 2017, foi realizada a transferência bancária de R$ 2 milhões para duas contas bancárias – R$ 1 milhão para cada uma. O dinheiro acabou sendo bloqueado. A partir de então, a exigência passou a ser a entrega de valores em espécie.

Em abril, após negociação com conhecimento da polícia, foi combinada a entrega de R$ 700 mil em espécie em um imóvel no Setor Leste Universitário. Na ocasião, o emissário enviado para receber os valores foi preso e levou os policiais ao local onde os demais integrantes da organização criminosa poderiam ser encontrados. A polícia autuou parte dos envolvidos, os levou para a delegacia e depois os liberou.

Segundo o MP, após esse episódio, os hackers continuaram a se comunicar com o padre exigindo dinheiro. Diante da situação, seis dias depois, eles voltaram a cobrar os R$ 2 milhões. Conforme o MP, a “vítima sucumbiu às extorsões recebidas e passou a realizar diversos pagamentos aos denunciados, ora sem e ora com o conhecimento da Polícia”.

De acordo com a defesa do padre, o valor usado nos pagamentos foi recuperado e está depositado em conta judicial, aguardando liberação para retornar às contas da Afipe.