A Câmara de São Paulo deve abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia, na região central de São Paulo. As assinaturas necessárias já foram recolhidas. O autor da proposta, vereador Rubinho Nunes (União), prevê que a comissão será instaurada em fevereiro, após o recesso parlamentar. Segundo ele, o padre Júlio Lancellotti será um dos principais alvos da CPI das ONGs.

Rubinho acusa as ONGs de promoverem uma “máfia da miséria”, que “explora os dependentes químicos do centro da capital”. Segundo ele, essas organizações recebem dinheiro público para distribuir alimentos, kit de higiene e itens para o uso de drogas, prática conhecida como política de redução de danos, à população em situação de rua, o que, argumenta ele, gera um “ciclo vicioso” no qual o usuário de crack não consegue largar o vício.

O vereador do União Brasil conta que o pedido de requerimento para a abertura da CPI foi apresentado no fim do ano passado com 25 assinaturas, mas que hoje a medida já conta com o apoio de 30 vereadores. O regimento interno da Câmara estabelece o mínimo de 18 assinaturas para a instalação de uma CPI.

Ele ainda esclarece que duas entidades serão prioridade nas investigações conduzidas pela comissão: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, conhecida como Bompar, e a Craco Resiste. As duas atuam junto à população em situação de rua e dependentes químicos no centro de São Paulo, assim como o padre Júlio Lancellotti, que já foi conselheiro do Bompar.

Padre nega relação com ONG

Após a ameaça da CPI, o Júlio Lancellotti divulgou nota negando que tenha relação com a ONG ligada à prefeitura.

“Esclareço que não pertenço a nenhuma organização da sociedade civil ou organização não governamental que utilize de convênio com o poder público municipal!, diz a nota

Esquerda rechaça CPI

A proposta de Rubinho Nunes para investigar o padre Júlio Lancellotti tem gerado embates nas redes socais, com personalidades e entidades ligadas à esquerda criticando a abertura da CPI das ONGs. Em ano eleitoral, o trabalho da comissão pode influenciar as campanhas na capital, visto que Lancellotti é aliado do deputado federal e pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL), enquanto Rubinho apoio o projeto de reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A União Nacional dos Estudantes (UNE) afirmou que “é inadmissível que no estado com o maior número de pessoas em situação de rua, aqueles que atuam para o acolhimento e garantia de seus diretos básicos sejam perseguidos e tratados como criminosos”.

A vereadora Luana Alves (PSOL) classificou a abertura da comissão como uma “perseguição da direita” ao padre Júlio. “A direita quer instalar uma CPI na Câmara de SP para perseguir o Padre Júlio Lancelotti, por seu trabalho em defesa da população em situação de rua. Quem será o próximo alvo da direita conservadora? Jesus Cristo? São Francisco de Assis? Irmã Dulce?”, escreveu em post no X (antigo Twitter).

O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) manifestou solidariedade ao sacerdote católico. “Me coloco à disposição para prestar meu depoimento pessoal sobre o sua extraordinária luta e atuação tão significativa junto à população em situação de rua, desde que foi designado por Dom Paulo Evaristo Arns”, escreveu o parlamentar sobre Lancelotti.