ROMA, 8 FEV (ANSA) – Por Enrica Di Battista – Às margens, mas não apenas das ruas. As mulheres transexuais vítimas de tráfico são as últimas na sociedade, invisíveis para muitos, mas ainda assim procuradas por um mercado que entrou em crise apenas durante a pandemia de Covid-19.
Por ocasião do Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, instituído pelo papa Francisco e celebrado em 8 de fevereiro, um padre faz um apelo. “As paróquias devem abrir as portas para essas mulheres”, diz, em entrevista à ANSA, o pároco Andrea Conocchia, sacerdote que há anos acolhe e ajuda em sua igreja em Torvaianica, no litoral romano, mulheres transexuais que trabalham como profissionais do sexo.
Geralmente provenientes de Brasil, Argentina e Colômbia, elas tendem a ter menos de 30 anos quando chegam à Europa, e algumas são até menores de idade, segundo a associação Libellula, que há três décadas luta pelos direitos das pessoas transexuais.
Repudiadas por suas famílias e pela sociedade em seus países de origem e vítimas de violência, elas chegam à Europa com a ilusão de uma vida melhor, mas acabam se prostituindo, escravizadas por cafetões ou cafetinas – incluindo outras mulheres trans que “ascenderam socialmente” – que, por anos, tomam tudo o que elas ganham.
Essas jovens precisam pagar uma “dívida” aos cafetões que gira em torno de 15 mil a 20 mil euros (de R$ 90 mil a R$ 120 mil), “uma espécie de taxa que são forçadas a pagar para chegar à Europa”, diz Asia Cione, porta-voz da associação Libellula. Há também a “apropriação do passaporte”, o único documento que possuem em um país onde conhecem apenas exploradores e clientes.
Além disso, precisam pagar por um lugar na calçada e por comida e moradia, isso quando não vivem em barracas na rua.
Frequentemente iniciadas no uso de drogas pelos carcereiros, muitas continuam a consumir com os clientes, que cada vez mais querem sexo e entorpecentes, explica a Libellula. As vítimas de tráfico também são forçadas a não usar preservativos, tornando-se mais expostas a doenças sexualmente transmissíveis.
O padre Conocchia já viu muitas dessas mulheres com dependências ou doenças, e algumas já faleceram. Além do acolhimento, ele conta que é importante “criar oportunidades de encontro, como almoços no Natal ou aos domingos”.
O sacerdote de Torvaianica já acompanhou muitas pessoas transexuais que frequentam sua paróquia nas audiências gerais do Papa e em almoços oficiais com o pontífice. Em seus pensamentos, ele recorda os relatos das jovens, como aquelas que, sem acesso a terapias hormonais, “injetavam silicone industrial com seringas veterinárias”. E quem são os clientes? “Não são extraterrestres, são pessoas normais, que estão entre nós”, conclui. (ANSA).