Pacientes do Rio de Janeiro podem ficar sem diálise por falta de repasses da Unimed Ferj

Paciente renal há 16 anos e beneficiária da Unimed Ferj, Giselle Sekiguchi, de 47 anos, teme ter de interromper as sessões de diálise que realiza em uma clínica no Rio de Janeiro. O estabelecimento informou que, no próximo dia 9, deixará de atender 45 pacientes da operadora por falta de repasses. “É desesperador porque a diálise é essencial para nossa sobrevivência e já é, por si só, um desgaste físico e emocional enorme. Com essa incerteza, tudo se torna ainda mais difícil”, relata Giselle.

Localizada no Engenho de Dentro, na zona norte do Rio, a Clínica Gamen afirma que a dívida da Unimed Ferj pela prestação dos atendimentos já chega a R$ 600 mil.

Interrupção pode ser fatal

As sessões de diálise na clínica acontecem, em média, três vezes por semana e duram cerca de quatro horas. O tratamento é indicado para pacientes que não têm função renal adequada, como nos casos de insuficiência renal aguda ou crônica, e que precisam de apoio mecânico para filtragem do sangue.

De acordo com Guilherme Fonseca Mendes, nefrologista e diretor da Gamen, pacientes com insuficiência renal crônica ou avançada costumam apresentar sintomas como fraqueza, náusea e vômitos, perda de peso, sonolência e confusão mental, e a diálise surge como uma ponte para o transplante. Ele afirma que não realizar o tratamento pode ser fatal, principalmente para aqueles que precisam de sessões com mais frequência.

“Múltiplas foram as tentativas de contato com a Unimed, tanto para cobrança quanto para negociação de valores, mas não obtivemos resposta”, diz. Ele também afirma nunca ter recebido retorno da Unimed do Brasil, responsável pela assistência de beneficiários da Unimed Ferj após acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O Estadão procurou a Unimed do Brasil para entender se a operadora foi notificada sobre o problema da clínica carioca e se possui algum plano de ação para o caso. Também questionou se a operadora nacional de fato assumiu os cuidados com os beneficiários da Unimed Ferj, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação. “Não temos como manter a assistência, infelizmente. Alguns pacientes estão conosco há mais de 20 anos, mas a dívida está insustentável”, afirma Mendes.

Para Leonardo Barberes, médico nefrologista e vice-presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), a situação gerada pela Unimed Ferj estrangulou os serviços. “No fim, quem pagará a conta imediata são os pacientes e profissionais de saúde.”

Crise da Unimed Ferj

Esta não é a primeira vez que pacientes da Unimed Ferj encaram dificuldades por falta de repasses. A operadora enfrenta uma crise financeira que tem deixado diversos beneficiários sem atendimento adequado, incluindo interrupção de quimioterapias, falta de medicamentos e descredenciamento de clínicas especializadas no atendimento a crianças com deficiência.

Em setembro deste ano, a ANS chegou a adotar medidas emergenciais, como a aplicação de multa de R$ 1 milhão, para tentar normalizar a situação. Mais recentemente, a agência anunciou que a Unimed do Brasil assumiria integralmente a assistência aos beneficiários da Unimed Ferj a partir de 20 de novembro. Segundo a operadora carioca, todas as condições contratuais permaneceriam em vigor.

A Unimed Ferj é a sexta maior operadora do Estado do Rio e tem beneficiários em todo o País. Segundo a ANS, são cerca de 396 mil usuários no Brasil.