Uma investigação federal conduzida nos EUA apontou que funcionários de uma organização que coordena a doação de órgãos ignoravam sinais de consciência dos pacientes. Segundo o “The New York Times”, em um dos casos, ocorrido há quatro anos, uma pessoa começou a chorar, encolher as pernas e balançar a cabeça quando os médicos estavam prestes a desligar seus aparelhos.
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Dezenas de outros doadores teriam sofrido com a mesma situação. A agência federal HRSA (Administração de Recursos e Serviços de Saúde) analisou 350 casos nos últimos quatro anos em que os procedimentos de remoção de órgãos foram cancelados — todos no estado de Kentucky.
De acordo com as autoridades, em 73 ocasiões as operações deveriam ter sido interrompidas mais cedo já que os pacientes demonstravam níveis elevados de consciência.
Apesar das cirurgias não terem se concretizado, pacientes teriam mostrado sinais de dor e sofrimento enquanto eram preparados para os procedimentos. A maioria das pessoas que teria seus órgãos retirados eventualmente morreu horas ou dias depois.
Nas doações de órgãos comuns, as estruturas do paciente são retiradas depois da constatação de uma morte cerebral. Entretanto, as investigações se concentraram em uma prática chamada de “doação após morte circulatória”.
Nestes casos, o procedimento ocorre quando os pacientes ainda apresentam funções cerebrais, mas estão em suporte de vida sem expectativa de recuperação — geralmente em coma. Se familiares concordarem com a doação, empregados de uma organização sem fins lucrativos são chamados e começam a testar os órgãos dos pacientes, reunindo cirurgiões e receptores. Há ao menos uma entidade em cada estado nos EUA e elas costumam ter funcionários nos hospitais.
Conforme as investigações, empregados da organização pressionavam famílias para aceitarem o procedimento e instigavam equipes médicas para tirarem pacientes do suporte de vida, mesmo quando estes mostravam sinais de consciência. Alguns funcionários ainda ignoravam a possibilidade de drogas e sedativos mascararem a condição neurológica dos pacientes, que poderiam estar em melhor estado do que aparentavam.
Metade dos transplantes organizados pela entidade, a Kentucky Organ Donor Affiliates — que passou a se chamar “Network for Hope” depois de uma fusão — eram por “morte circulatória”, acima da média nacional. A organização disse que segue as regras e nunca inicia o procedimento antes do hospital declarar o óbito.
As autoridades indicaram que a entidade do Kentucky deve aumentar o treinamento de sua equipe e conduzir avaliações neurológicas em potenciais doadores a cada 12 horas, entre outras mudanças.