Dois meses após a morte, uma mulher, batizada de Clarinha, foi velada e enterrada. A paciente sem identificação ficou 24 anos internada em estado de coma no HPM (Hospital da Polícia Militar) de Vitória, no Espírito Santo, depois de ter sido atropelada.
+ 40 dias após a morte, paciente que ficou em coma por 24 anos ainda não foi sepultada
+ ES: mulher internada em coma por 24 anos morre em hospital sem ser identificada
Uma funerária se solidarizou para realizar o sepultamento e funcionários do HPM compraram a coroa de flores. O coronel Jorge Potratz, médico aposentado que cuidou de Clarinha, pediu a uma enfermeira que comprasse um vestido branco para a ocasião.
O local escolhido para o enterro foi o Cemitério Municipal de Maruípe, em Vitória. O corpo de Clarinha foi liberado pela Justiça no dia 10 de maio, e retirado do DML na segunda-feira, 13.
O enterro da mulher demorou porque a PCIES (Polícia Científica do Espírito Santo) estava realizando exames no intuito de encontrar algum familiar dela. Foram feitos exames de necropsia e DNA, mas nenhum parente foi localizado.
Relembre o caso
Após ter sido atropelada, ela chegou sem documentos pessoais ao pronto-socorro. Segundo o HPM, a mulher tinha marcas de cesária, o que indicava que teve um filho, mas nenhum parente consanguíneo procurou o hospital no período em que ela esteve internada. “Pelos cálculos dos profissionais, ela faleceu com 45 anos”, afirmou o hospital.
O MPES (Ministério Público do Espírito Santo) tentou localizar a família da vítima. Em 2020, um grupo de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) entrou em contato com o MPES para ajudar na investigação.
A equipe utilizou uma técnica de comparação facial usando bancos de dados de pessoas desaparecidas com características físicas semelhantes às de Clarinha e chegaram a uma criança de 1 ano e 9 meses de idade desaparecida em Guarapari, em 1976. No entanto, a análise do material genético dos supostos pais da mulher afastou a hipótese.
Atropelamento e vida no hospital
De acordo com relatos de testemunhas, a mulher estava fugindo de um perseguidor, também não identificado, e correu para o meio de uma avenida movimentada no Centro de Vitória, onde foi atropelada por um ônibus. Levada para o antigo Hospital São Lucas, passou por diversas cirurgias. O cérebro foi afetado, impedindo que ela retornasse de um coma profundo. Sem documentos e com as digitais desgastadas, buscou-se, em um primeiro momento, encontrar algum conhecido dentre as testemunhas do acidente, mas ninguém tinha qualquer notícia da mulher.
Em seguida, Clarinha foi transferida para o HPM. Neste meio tempo, o MPES realizou diversas buscas, inclusive com o apoio de outros ministérios públicos, mas não obteve nenhuma informação sobre a vítima.