Enquanto mantém expectativa de ser indicado pelo presidente Lula (PT) à vaga aberta no Supremo Tribunal Federal e é citado pelo petista como “seu governador“, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) vê as alternativas eleitorais em solo mineiro ficarem mais estreitas.
Neste texto, a IstoÉ explica como a trajetória do senador o levou a essa encruzilhada política e quais são as alternativas apresentadas a ele rumo às eleições de 2026.
Do antipetismo ao ‘palanque ideal’
Deputado federal de mandato único pelo MDB, Pacheco migrou para o ainda Democratas (que, após fusão com o PSL, se tornaria União Brasil) para concorrer ao Senado em 2018 na raia da oposição ao governo Fernando Pimental (PT) e enfrentando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) pelas duas vagas em disputa.
Alinhado à direita, Pacheco se elegeu ao lado de Carlos Viana (Podemos) em uma disputa apertada e, na visão de cientistas políticos, decidida por uma onda antipetista que, entre outros resultados pelo Brasil, neutralizou o favoritismo de Dilma em Minas — a ex-presidente acabou na quarta posição.

Pacheco na presidência do Senado
Eleito, consolidou uma aliança com o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e contrariou a tendência de que apenas parlamentares experientes comandam a Casa Alta do Parlamento: votado por 57 colegas, chegou à cadeira em 2021, no terceiro ano de mandato.
Na posição, enfrentou um período de ataques frontais do então presidente Jair Bolsonaro (PL) aos demais Poderes e, em especial, ao STF. Apesar do amplo esforço bolsonarista, barrou dezenas de pedidos de impeachment de ministros da corte e, ao recusar um direcionado a Alexandre de Moraes, afirmou que “fechar portas, derrubar pontes e exercer arbitrariamente suas próprias razões são um desserviço ao país”.
Nas eleições de 2022, diante de ataques de Bolsonaro e aliados ao sistema eleitoral em uma das frentes do que depois a Polícia Federal viria a descobrir se tratar de uma tentativa de ruptura institucional, Pacheco se prontificou a reconhecer a vitória de Lula nas urnas, classificando-a como “inquestionável” e chamou protestos pelo fechamento do Supremo de “anomalias graves”.
Já sob o petista, Pacheco classificou a invasão às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, como atos de uma “minoria golpista” que seria identificada e responsabilizada. Com apoio da base governista, foi reeleito presidente do Senado no mês seguinte. Na cadeira, manteve a postura de defesa institucional que o tornou um adversário prioritário do bolsonarismo e se aproximou ainda mais dos ministros do STF.
Fora da presidência do Senado — onde o aliado Alcolumbre, de volta, o sucedeu –, passou a ser publicamente defendido por Lula para concorrer ao governo de Minas Gerais na próxima eleição. Em eventos no estado, o petista divide palco com o senador e chegou a chamá-lo de “meu governador”. “Foi a coragem do Pacheco que garantiu a manutenção do processo democrático desse país. Ele é a figura política mais importante que o estado tem, e se quiser, será governador”, disse o presidente em entrevista.
Em meio aos gestos presidenciais, a postura pública de Pacheco oscilou. Ele afirmava que pretendia encerrar a vida pública ao concluir o mandato no Senado. “A tendência é mais forte do que de ser candidato em 2026”, afirmou em novembro de 2024. Meses depois, passou a se encontrar mais frequentemente com prefeitos de diferentes regiões do estado e participar de inaugurações de obras onde ouve elogios a seu papel para viabilizar recursos. Em entrevista recente ao canal MyNews, afirmou que ficaria “honrado” em ser governador.
A cadeira preferida
O movimento entrou em suspenso quando, em 9 de outubro, o ministro Luís Roberto Barroso anunciou sua aposentadoria do STF. Entre aliados e mesmo adversários de Pacheco, era conhecido seu desejo de ocupar uma cadeira na corte; acontece que não havia previsão de troca de um magistrado até abril de 2028, quando Luiz Fux completa 75 anos e, pelos limites legalmente impostos, se aposentará. A decisão de Barroso, que tem 67 anos, chegou oito anos antes do previsto e reconfigurou o tabuleiro.

Luís Roberto Barroso: ao se aposentar do STF, ministro alterou tabuleiro político
No Legislativo, começou uma campanha para convencer o presidente Lula, a quem cabe fazer a indicação, a escolher o mineiro. Senadores defenderam publicamente seu nome para a vaga e, sob condição de anonimato, um aliado de Alcolumbre disse à IstoÉ que qualquer outro escolhido do petista teria dificuldade em conquistar os 42 votos necessários na Casa para garantir a aprovação da indicação.
Mesmo assim, o favorito é Jorge Messias, advogado-geral da União. Na leitura de integrantes do governo e pesquisadores, a opção tem mais coerência com o perfil recente de escolhas de Lula, marcado pela relação de confiança e proximidade — o petista indicou Cristiano Zanin, seu advogado pessoal, e Flávio Dino, seu ministro da Justiça, no atual mandato. Um esforço por distensionar relação com o Congresso, no entanto, ainda pode pesar a favor do ex-presidente do Senado, o que serviu para o mandatário ao menos adiar o anúncio.
Em declarações públicas, Pacheco também se diz “honrado” com a lembrança para a vaga na cúpula do Judiciário, mas reitera que não faz campanha e respeita a prerrogativa do presidente. Segundo fontes do entorno do senador, no entanto, sua preferência pelo STF é inegável.
Não há vácuo na política
Uma frase atribuída a diferentes autores ao longo da história diz que “na política não há vácuo”. Diante da movimentação do ex-presidente do Senado pela cadeira deixada por Barroso, integrantes do grupo de Lula e mesmo do partido de Pacheco em Minas passaram a se movimentar para garantir candidaturas competitivas no estado em 2026.
Primeiro foi Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte. Depois de dizer, em entrevista à IstoÉ, que não pretendia ser o “candidato de Lula” ao Palácio da Liberdade, o ex-presidente do Atlético Mineiro se filiou ao PDT com a presença da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), em gesto lido por seu entorno como um sinal de reaproximação do governo petista — Kalil dividiu palanque com Lula em 2022, quando foi derrotado por Romeu Zema (Novo), mas não voltou a falar com o presidente. À IstoÉ, uma fonte que esteve no evento disse que, se houvesse confiança de que Pacheco seria candidato, essa sinalização “não aconteceria tão cedo”.

Alexandre Kalil: ex-prefeito de BH entrou no páreo por apoio de Lula ao governo mineiro
Em seguida, o PSD filiou o vice-governador do estado, Mateus Simões, que herdará a cadeira do titular até abril — mês em que Zema terá de se desincompatibilizar para concorrer à Presidência — com o objetivo declarado de disputar a reeleição. Em entrevista à newsletter Jogo Político, Simões disse que, além da ida ao PSD, ele tem conversas para atrair o apoio de PP e União Brasil, limitando ainda mais as alternativas ao senador.
Com espaço restrito na própria agremiação para se lançar ao governo, Pacheco viu surgirem opções como o PSB e o MDB. Este segundo, no entanto, também afastou a possibilidade nesta semana ao lançar a pré-candidatura de Gabriel Azevedo. À IstoÉ, o ex-presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte relatou ter deixado claro em conversa com o senador que o MDB tem pré-candidato, e acrescentou que seu projeto não será alinhado a Lula, mas “independente” da polarização nacional.
Enquanto isso, o grupo do presidente tem pressa para assegurar palanque ao seu projeto de reeleição no estado onde, historicamente, o candidato mais votado sobe a rampa do Palácio do Planalto. Prefeita da segunda maior cidade administrada pelo PT no país, Marilia Campos disse à IstoÉ que o partido precisa tomar logo sua decisão. “Os dois grandes nomes são Pacheco e Kalil, [mas] se Pacheco declina e Kalil se coloca, temos que apoiar de primeira mão e trabalhar essa liderança. Não podemos perder o bonde da história”, afirmou