Em conversa com o pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse nesta quarta-feira, 12, que o vencedor das eleições será empossado em sessão do Congresso, no dia 1.° de janeiro de 2023. Pacheco garantiu não haver risco de ruptura institucional e afirmou que, como presidente do Congresso, não aceitará qualquer tentativa de tumultuar a posse de quem for eleito.

O presidente do Senado recebeu Lula, o pré-candidato a vice na chapa, Geraldo Alckmin, e 13 senadores de partidos aliados para um almoço na residência oficial do Senado. O encontro durou duas horas e meia. Uma parte da conversa girou sobre a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro tentar dar um golpe, caso não seja reeleito.

Bolsonaro tem lançado suspeitas sobre as urnas eletrônicas, sem apresentar provas, e mais de uma vez chegou a dizer que pode não reconhecer o resultado das eleições.

“O ex-presidente (Lula) foi muito enfático ao dizer que Bolsonaro, no momento em que sente que dificilmente conseguirá vencer pelo voto, caminha em busca de pretextos para justificar uma ruptura institucional. Saímos tranquilos de que o Congresso será ponto de resistência a isso”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).

A reunião serviu para Pacheco conhecer pessoalmente Lula. Embora todos os convidados tenham dito que não se tratou ali das eleições no Congresso, marcadas para fevereiro de 2023, sabe-se que Pacheco quer disputar novo mandato ao comando do Senado.

Nos bastidores, ele avalia que Lula tem mais chances de vencer a disputa com Bolsonaro e espera o apoio do PT para ser reconduzido ao cargo. “Foi conversa institucional e muito republicana. Pacheco e Lula se conheceram, trocaram ideias”, disse o senador Jean Paul Prates (PT-RN).

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Durante o almoço, Lula afirmou que o Congresso precisa se posicionar com mais veemência e defender eleições pacíficas. No último sábado, o policial penal Jorge Guaranho matou a tiros o guarda municipal Marcelo de Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, quando ele comemorava seu aniversário em uma festa com decoração alusiva ao partido. “Aqui é Bolsonaro”, gritou Guaranho, antes do crime.

“O tema central desse encontro foi a democracia”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da Oposição. “O Senado atuará na garantia de que eleitos serão empossados. A tarefa maior de Pacheco é garantir posse dos eleitos”.

Ainda assim, o encontro teve um pano de fundo eleitoral. O PSD de Pacheco caminha para apoiar Lula em um eventual segundo turno contra Bolsonaro. Além disso, em Minas, reduto eleitoral do presidente do Senado, o partido já está aliado com o PT. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, que não estava presente, tem dito que a prioridade do partido será manter Pacheco no comando do Senado.

Segundo o senador Alexandre Silveira (PSD-MG), Pacheco faz um contraponto à retórica de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. A avaliação de aliados tanto de Lula, quanto de Pacheco é que o presidente do Senado, mesmo que não declare apoio ao petista no primeiro turno, terá um importante papel de mediador de diálogo com as instituições. Participaram do encontro com Pacheco, ainda, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o coordenador do programa de governo de Lula, Aloizio Mercadante. Senadores de outros partidos, como Veneziano Vital do Rego (MDB-PB), Nilda Gondim (MDB-PB) e Dario Berger (PSB-SC), também estavam presentes.

Sem provocação

Mais cedo, também em Brasília, Lula se encontrou com deputados e senadores. “Estive hoje com parlamentares de todo o Brasil, conversando sobre a reconstrução do nosso país. Precisamos de representantes que defendam os direitos do povo no Congresso”, escreveu ele no Twitter.

No discurso, Lula repetiu aos parlamentares a recomendação para que não aceitem provocações de adversários políticos. Disse, ainda, que a prioridade é fazer o possível para evitar violência.

Ao falar sobre os projetos no Congresso, o ex-presidente afirmou que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria e amplia uma série de benefícios sociais é ruim e eleitoreira e manifestou preocupação com o orçamento secreto. O esquema criado pelo governo Bolsonaro para distribuir recursos de emendas parlamentares a deputados, em troca de apoio no Congresso, foi revelado pelo Estadão.

Além de deputados de partidos que já apoiam Lula, parlamentares do Centrão, como Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e Neri Geller (Progressistas-MT), também conversaram com o ex-presidente. Os dois são de partidos que estarão formalmente na coligação presidencial de Bolsonaro. Integrante do MDB, partido que lançou a senadora Simone Tebet na disputa ao Planalto, o deputado Fábio Ramalho (MG) também compareceu.

Ao sair da reunião, Geller afirmou que vai tentar abrir espaço no agronegócio para Lula. “”Não estou falando que a gente vai trazer muita gente (do agro), mas a gente vai fazer um contraponto”, declarou.

O deputado já foi ministro da Agricultura da ex-presidente Dilma Rousseff e é pré-candidato ao Senado. De acordo com ele, a escolha de Alckmin como vice deve ajudar a quebrar resistência no agronegócio a Lula. Geller afirmou que o Mato Grosso tem “um carinho muito grande” por Alckmin e que o agronegócio do Estado está muito conectado com São Paulo.


Integrante do Progressistas, partido do Centrão, Geller também enumerou alguns representantes ruralistas que têm canal aberto com Lula, como o ex-senador Blairo Maggi (Progressistas-MT) e os empresários Gilson Pinesso e Carlos Ernesto Augustin, irmão de Arno Augustin, ex-secretário do Tesouro no governo Dilma.

“O Blairo está fora da política, mas é do nosso time, do nosso grupo, a gente conversa muito. Blairo, Carlos Ernesto Augustin, Gilson Pinesso são pessoas que organizaram o setor agrícola lá no Estado. Esse time inteiro está alinhado”, disse Geller.


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