Já faz alguns dias que circula a informação de que o artista plástico Maxwell Alexandre, um homem negro, teria “atacado” o Instituto Inhotim. Na verdade, o “ataque” assim proclamado por parte da imprensa brasileira, trata-se de um protesto do renomado artista, que pediu a remoção de sua obra, da série “Novo Poder”, da exposição temporária “Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro”.

Maxwell Alexandre critica a ausência de pessoas negras na equipe do museu: “Eu não nego a importância de tematizar e falar sobre ser negro e tudo o que isso implica”. “A única maneira de lidar com legitimidade e tentar diminuir erros tão grotescos seria ter na equipe de projetos o máximo de pessoas negras, principalmente em cargos altos de poder decisivo.”

Além disso, o artista também denuncia a falta de pavilhão de artistas pretos no Inhotim. “No momento em que, já atrasados, decidem finalmente dar algum espaço, enfiam todos numa galeria só, em uma exposição temporária”. Em tempos de reivindicação de novos regimes de visibilidade e novas ordens de representação, a insurgência de Maxwell Alexandre não pode ser abrigada no guarda-chuva do ataque, mas no da ousadia. É preciso que examinemos com lupas mais adequadas o gesto de Alexandre: uma voz individual se levanta para dizer que não pactuará com as persistentes formas de aprisionamento de imagens das pessoas negras, com uma cadeia produtiva reinante no mundo das artes que segue inviabilizando grupos historicamente discriminados, que insiste em não conferir aos talentos negros reconhecimento que vai para além daquele que segrega, subalterniza, estereotipa.

O campo das artes está no epicentro de um debate irreversível, que coloca em jogo uma discussão sobre os modos de produção e suas formas de difusão

Como era de se esperar, o campo das artes está no epicentro de um debate irreversível, que coloca em jogo uma discussão sobre os modos de produção e suas formas de difusão. Maxwell Alexandre soube ousar, denunciar, criticar; soube, acima de tudo, reivindicar acesso a uma soberania negada em espaço ainda refratário às humanidades negras, postulando concomitantemente a transformação desse espaço. Do lugar social e simbólico que ocupa hoje, poderia se acomodar no acesso e na ocupação de lugares como o Museu de Inhotim. Mas, como soube elaborar algo emancipatório da palavra que a ele foi dada, Maxwell postula transformação e, assim, honra com o nome e o legado daqueles e daquelas que influenciaram sua formação artística e política. Obrigada pelo gesto, Maxwell Alexandre!