Os países da Otan deram luz verde nesta quarta-feira (8) ao recurso de táticas de guerra cibernética nas operações da Aliança Atlântica, iniciando uma nova etapa para reforçar sua “dissuasão” perante a Rússia.

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Os 29 ministros da Defesa da organização, reunidos em Bruxelas, também aprovaram a criação de dois centros de comando para contribuir com a proteção da Europa.

Desde a anexação da Crimeia e a ofensiva dos rebeldes pró-russos no leste da Ucrânia em 2014, a Otan realiza uma profunda transformação perante uma Rússia considerada mais agressiva.

A Rússia “investe muito em matéria de defesa há vários anos, [adquirindo] capacidades modernas, forças convencionais e nucleares, e mostrou que queria fazer uso da força contra países vizinhos”, ressaltou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em alusão à Ucrânia.

“A Otan soube responder. Nós nos adaptamos constantemente”, insistiu, recordando a mobilização de batalhões nos países bálticos e na Polônia.

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– Artigo 5 –

Desde 2016, a Otan considera o ciberespaço como um “terreno operacional”.

Portanto, “um ciberataque pode ativar o artigo 5” do Tratado fundador da Aliança, que prevê que os países-membros acudam em ajuda de um aliado em caso de agressão, lembrou Stoltenberg.

Alguns países da Aliança usaram “com muita eficácia” no Iraque e na Síria contra o grupo Estado Islâmico (EI) táticas de ciberguerra – contra páginas da web ou contra redes sociais, para interceptar intercâmbios, apagar servidores ou sabotar as tecnologias usadas em combate -, apontou.

As principais potências da Otan (Estados Unidos, Reino Unido e França) dispõem de capacidades ofensivas nesta área, mas um recente exercício da Otan revelou importantes fragilidades, enquanto a Rússia tem reputação de excelência na questão, segundo diplomatas.

“Nós temos que ser igualmente eficazes no campo cibernético como somos em terra, mar e ar”, avaliou o chefe da Aliança.

Para “reforçar sua dissuasão”, a Otan lançou nesta quarta-feira uma remodelação de sua estrutura de comando, o que porá fim a uma série de vagas de seus efetivos, que passaram de 22.000 homens em tempos da Guerra Fria a 6.800 atualmente.

A Otan quer, assim, adicionar dois centros de comandos mais, um para proteger as linhas de comunicação através do Atlântico e outro para coordenar o movimento de tropas e equipamento na Europa.

Mas os 29 Estados-membros, sob pressão do presidente americano, Donald Trump, para aumentar suas despesas, não abordarão as questões mais difíceis (amplitude do aumento de efetivos, orçamentos e pontos de implantação) até fevereiro próximo.

– 16.000 soldados no Afeganistão –

Nesta quinta-feira (9), a Otan deve responder a outra demanda da Casa Branca, que pediu reforços para a missão no Afeganistão e à sua “nova estratégia” no país.


Após 16 anos de conflito e apesar de centenas de bilhões de dólares em ajuda internacional, os talibãs, que controlam 40% do território afegão, continuam multiplicando os ataques contra o exército e os atentados, inclusive na capital, Cabul.

“Resolute support”, a missão de assessoria e assistência da Otan ao exército afegão, conta atualmente com 13.000 soldados e passará “a 16.000 no ano que vem”, segundo Stoltenberg.

Os Estados Unidos aportarão 2.800 efetivos e seus aliados, cerca de 700, segundo fontes diplomáticas.

Na tarde de quinta-feira, o secretário de Defesa americano, Jim Mattis, se reunirá com cerca de trinta ministros e representantes dos países que integram a coalizão contra o grupo EI para falar da campanha militar no Iraque e na Síria.

A queda de Mossul, no Iraque, e mais recentemente de Raqa, a “capital” do EI, na Síria, abrem a via a considerações o pós-Estado Islâmico, comentou Mattis à imprensa no avião que o levou à Europa.

“Há muitas expectativas”, destacou uma fonte francesa, especialmente à vista do discurso ofensivo de Trump contra o Irã.

“A gente se pergunta como vão se manifestar na prática na estratégia militar os discursos dos altos funcionários americanos sobre a necessidade de fazer com que se reduza a presença iraniana na região”, explicou.

Durante os dois dias de reunião em Bruxelas, os ministros da Defesa também abordarão a crise com a Coreia do Norte, o ponto principal do jantar de trabalho, previsto para a noite de quarta-feira, ao qual deve se somar a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.


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