Otan e Rússia tentaram retomar o diálogo diplomático nesta quarta-feira (13), pela primeira vez desde a cúpula de Varsóvia, quando a Aliança decidiu posicionar 4.000 soldados nos países bálticos e na Polônia para reforçar sua segurança.

“Não houve convergência de pontos de vista hoje”, admitiu o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, após quase três horas de discussões entre os embaixadores dos 28 países-membros da Aliança e seu colega russo, Alexandre Grouchko.

“Tivemos uma discussão aberta, franca, e o clima era bom, mas não estávamos de acordo”, resumiu Stoltenberg, celebrando, porém, “uma ocasião importante de esclarecer nossas respectivas posições”.

O conflito na Ucrânia continua sendo o pomo da discórdia.

“As ações da Rússia na Ucrânia minaram a segurança na zona euro-atlântica”, afirmou Stoltenberg, que voltou a condenar a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

Na reunião de Varsóvia, na semana passada, os dirigentes da Aliança Atlântica aprovaram o envio de quatro batalhões multinacionais para os três países bálticos e para a Polônia a partir de 2017. Dirigidos por Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Reino Unido, os batalhões contarão com entre 600 a 1.000 homens cada.

Guerra Fria

A mobilização perto da fronteira russa provocou a fúria de Putin, que acusou a Otan, recentemente, de desejar levar seu país a uma corrida armamentista “frenética” e romper o “equilíbrio militar” em vigor na Europa desde o fim da URSS.

Essas medidas “excessivas e contraproducentes (…) nos levam a um clima de Guerra Fria”, denunciou o embaixador da Rússia à imprensa, nesta quarta.

“O modelo de confrontação que nos é imposto [pela Otan] não nos interessa”, martelou.

Há meses, alguns países da Aliança – começando por França e Alemanha – insistem em que a Otan deve tentar renovar o diálogo, especialmente para evitar uma escalada em caso de incidentes.

Qualquer cooperação prática com Moscou permanece interrompida. É nesse contexto que acontece a segunda reunião, desde o fim de abril, entre os embaixadores dos países da organização e o diplomata russo no âmbito do “Conselho Otan-Rússia” – uma instância de diálogo adormecida nesses últimos dois anos.

Hoje, a Rússia chegou com “propostas” sobre uma das fontes de tensão: os sobrevoos do Mar Báltico feito por aviões militares russos, com seus transpônderes apagados. Isso complica seu monitoramento e aumenta os riscos de colisão.

“Nós dissemos claramente que estamos prontos a voar com nossos transpônderes ligados sobre determinadas rotas”, garantiu Grouchko, acusando as aeronaves da Otan de também realizarem voos “às cegas”.

“Propomos organizar as consultas sobre esse tema entre as autoridades militares”, afirmou.

Essas consultas seriam um bom sinal, considerando-se que qualquer comunicação entre representantes do alto escalão de ambos os lados está interrompida desde maio de 2014.

‘Atividades perigosas’

A iniciativa não recebeu, porém, acolhida imediata em Bruxelas.

“Saudamos essa proposta, mas pedimos mais detalhes”, respondeu Stoltenberg, lembrando que esse é apenas um aspecto dos problemas de segurança sobre o Báltico.

“Vimos atividades perigosas (…), aviões russos dando rasantes sobre navios americanos”, observou o chefe da Otan, mencionando incidentes com um destróier americano em abril.

A crise na Ucrânia trouxe aos antigos países do bloco soviético preocupação com sua integridade territorial. Também levou os 28 países da Aliança a deflagrar um reforço militar sem precedentes desde o fim da Guerra Fria.

Vários incidentes contribuíram para aumentar a tensão. Em um deles, a Turquia, que é membro da Aliança, abateu um avião russo em novembro de 2015, depois que a aeronave invadiu seu espaço aéreo pela Síria.