A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se prepara para celebrar o seu 75º aniversário na quinta-feira (4), mais forte do que nunca, mas ainda sob a ameaça da Rússia e do espectro de Donald Trump.

A aliança militar, que surgiu na Guerra Fria para confrontar a União Soviética, foi revitalizada com a invasão russa da Ucrânia e tem mais tropas do que nunca no seu flanco oriental.

Com a adesão da Suécia e da Finlândia, a aliança que em 2019 estava em “morte cerebral”, segundo o presidente da França, Emmanuel Macron, passou a ter um número recorde de 32 países membros.

Sendo assim, a aliança militar reorientou os seus objetivos, concentrando-se novamente em Moscou, o seu adversário original, embora a Rússia de hoje esteja longe da agora extinta União Soviética e seus aliados.

Esta tendência de fortalecimento começou em 2014, quando a Rússia tomou a península da Crimeia da Ucrânia, mas tornou-se plena após fevereiro de 2022.

Entre essas duas datas, a Otan atingiu a sua maior crise com a desastrosa retirada do Afeganistão, um passo que fez com que várias capitais europeias questionassem – mais ou menos abertamente – a dependência excessiva da aliança em relação aos Estados Unidos.

A invasão russa da Ucrânia mudou tudo para a Otan. Os países da Aliança enviaram armamento de dezenas de bilhões de dólares às forças ucranianas.

Com as forças russas ganhando terreno na Ucrânia e a redução das entregas de armas ocidentais a Kiev, os observadores temem que os países da Otan possam ser os próximos na mira da Rússia se o Kremlin conseguir uma vitória na Ucrânia.

“Se a ajuda diminuir e a Ucrânia estiver sob pressão para negociar e aceitar uma má paz, isso aumentaria o risco de uma Rússia agressiva. É por isso que é essencial apoiar a Ucrânia agora. É um investimento na Otan de amanhã”, afirmou James Black, da empresa americana RAND Corporation.

– O fator Trump –

Mas a Rússia não é a única ameaça que paira sobre a Otan. O outro grande fator de incerteza é o eventual retorno de Donald Trump à Casa Branca.

O seu período como presidente dos Estados Unidos causou uma tempestade na Aliança. Em sua campanha para um novo mandato, ele já gerou uma grave crise com apenas uma frase.

No início deste ano, em um evento de campanha, Trump garantiu que se fosse reeleito encorajaria a Rússia a “fazer o que quiser” com os países da Otan que não estão em dia com as suas obrigações financeiras.

Na opinião de Camille Grand, ex-funcionário de alto escalão da Otan, “o verdadeiro problema de Trump é a sua imprevisibilidade”.

“A retirada dos Estados Unidos nem sequer é necessária. Um tuíte ou uma frase como ‘nenhum soldado americano morrerá por um aliado como a Lituânia'” seria suficiente para outra crise, disse Grand, que é agora membro do think-tank Conselho Europeu de Relações Exteriores.

Por esta razão, a Otan iniciou um forte esforço para aumentar o número de países que cumprem o objetivo de investir na Defesa o equivalente a 2% do PIB.

Em 2014, apenas três países da aliança atingiram esse nível e a Otan espera que até o final deste ano esse número suba para 20.

Diplomatas na sede da Otan, em Bruxelas, estão otimistas quanto a um possível segundo mandato de Trump.

Em tal cenário, mencionam que, para convencer os Estados Unidos de que a Otan continua relevante, devem intensificar a atenção que prestam à China, uma preocupação fundamental para Washington.

Mas mesmo apesar do aumento dos gastos com a defesa nos países europeus, muitos acreditam que a Otan sem o poder dos Estados Unidos simplesmente não funcionaria.

“Se os Estados Unidos recuarem, então não seremos capazes de administrar (…). A Europa está acelerando o ritmo, mas levará algum tempo até que possa se aproximar” da contribuição americana, disse um diplomata europeu, sob condição de anonimato.

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