Se havia dúvidas sobre se o depoimento do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) na CPI da Covid fosse servir para alguma coisa no andamento das investigações, elas caíram por terra nesta terça-feira, 22. Durante todo o tempo em que esteve sentado na sala onde ocorreu a sessão, Terra destilou todo o negacionismo que nutre dentro de si, questionando a eficiência de medidas timbradas pela ciência no enfrentamento da pandemia, como o distanciamento social, e deixando evidente a sua defesa pela imunização de rebanho.

Na CPI, Terra parecia reproduzir, literalmente, tudo aquilo que a sociedade ouviu de Bolsonaro desde o início da pandemia que, por enquanto, já tirou a vida de mais de 504 mil brasileiros. Uma marca lamentável, que vai aumentar ainda mais graças às políticas adotadas pelo capitão com base nessa lógica.

Foi isso que o relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), procurou retratar quando reproduziu na sessão desta terça-feira um compilado de vídeos em que Bolsonaro aparecia repetindo exatamente as informações mentirosas relacionadas a vacina, a imunização de rebanho e ao uso de cloroquina pouco depois de Terra ter difundido essas mesmas ideias em entrevistas.

O parlamentar, que também é médico, chegou à CPI na condição de suspeito de compor o gabinete paralelo que a comissão sustenta existir. Segundo os parlamentares, esse grupo aconselhou Bolsonaro e o orientou na escolha de políticas públicas baseadas no negacionismo para combater a doença no Brasil. Depois da sessão, as suspeitas se materializaram ainda mais em fatos.

Terra não só integrava o gabinete paralelo como também se mostrou ser um dos principais líderes da equipe composta por outros tantos que têm a cara de pau de se apresentarem como médicos. A moral do deputado era tamanha junto a Bolsonaro que ele merecia uma cadeira cativa nas reuniões com o presidente. Na mesa, Bolsonaro chegou a chamar o deputado de “meu assessor”.

Pouco mais tarde, um dos filhos do mandatário, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), saiu em defesa de um do guru de seu pai no Instagram. Junto com um vídeo em que Terra diz que o lockdown não funcionou na pandemia, Flávio também criticou a medida e escreveu que “a política infectou a ciência”. O correto seria: políticos infectaram a ciência. Não à toa, muitos estão sendo investigados por isso.

Tudo é muito simples. Só existem dois lados em toda a história da pandemia no Brasil. O lado dos que foram a favor da vida. E o lado dos foram a favor da morte. O depoimento de Terra mostrou que ele escolheu o seu lado e esse lado é liderado por Bolsonaro, o principal responsável pela tragédia brasileira na pandemia.