A CPI precisa decidir se continuará a dar palco para negacionistas. O depoimento do deputado Osmar Terra (MDB) à CPI, nesta terça-feira, 22, é aviltante não apenas pelo cinismo com que tentou se livrar da responsabilidade pela política que levou à morte de meio milhão de brasileiros. Causou repulsa assistir novamente à verdadeira campanha que ele fez desde o início contra as medidas capazes de deter a doença. Desde o começo, ele disse que o distanciamento social não tinha nenhum efeito, afirmou que apenas a “imunidade de rebanho” (uma tese estapafúrdia e desvirtuada) iria acabar com a pandemia e desqualificou a importância da vacinação. Sacou novamente dados enganosos para voltar espalhar desinformação sobre a evolução da doença. Repetiu, mais uma vez, uma ação deliberada para confundir a população e minar a credibilidade dos dados científicos.

A fala irresponsável do deputado gaúcho lembra o Brasil de 100 anos atrás, o da Revolta da Vacina. É essa a regressão no debate público que os asseclas do presidente procuram atingir, agora turbinados pelas redes sociais, que reproduzem com algoritmos sofisticados as falas mais radicais, capazes de provocar reação entre os incautos. À imprensa, também atacada violentamente pelo presidente, coube a penosa tarefa de tentar esclarecer os fatos e apontar a verdade em meio ao mar de mentiras que são propagadas diariamente – inclusive por bárbaros que usam seus diplomas como escudo, como é o caso de Terra.

O trágico é que o deputado conseguiu calibrar o discurso negacionista para um presidente que tem uma agenda ditatorial e populista. Terra não apenas influenciou Bolsonaro, ele deu o conteúdo para a ação criminosa na pandemia. Foi o arquiteto do negacionismo. No fim, a CPI tem o papel histórico de preparar a base legal para a criminalização desses personagens sombrios. Para a população, o discurso sereno mas vigoroso de defesa das medidas sanitárias baseadas na ciência deve prevalecer em todas as instâncias, sem permitir defesas ladinas contra as urgentes medidas coletivas. Essas falas são apenas uma empulhação que se destina a eternizar um governo autoritário à custa de mortas em série.


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